Suspeito de 49 anos usava cultos e sessões de “cura” para hipnotizar e estuprar meninos; crimes ocorreram até no banheiro de uma igreja, segundo a Polícia Civil

Um pastor evangélico de 49 anos foi preso na manhã da última sexta-feira (25), no distrito de Maimbá, município de Anchieta, no sul do Espírito Santo, acusado de abusar sexualmente de pelo menos quatro adolescentes do sexo masculino. Segundo a Polícia Civil, o homem usava a fé, a promessa de “curas espirituais” e sessões de hipnose para imobilizar as vítimas e cometer os crimes — inclusive dentro de uma igreja.

A prisão ocorreu em cumprimento a um mandado de prisão preventiva expedido pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Anchieta. O suspeito, cuja identidade não foi revelada, está detido no sistema prisional capixaba e segue à disposição da Justiça.

De acordo com a delegada Luiza Jacob, responsável pelo caso na 10ª Delegacia Regional de Anchieta, as investigações começaram em setembro de 2024, depois que a mãe de uma das vítimas registrou um Boletim de Ocorrência. A apuração revelou um padrão de conduta repetido pelo pastor: ele atraía os adolescentes com discursos religiosos, isolava-os em locais privados — como sua casa ou até mesmo o banheiro de uma igreja — e, sob o pretexto de realizar sessões de cura espiritual, aplicava técnicas de hipnose para cometer os abusos.

“Ele apresentava um modus operandi específico, sempre usando a religião para ganhar a confiança das vítimas. Dizia que faria orações ou ‘limpezas espirituais’, e durante o estado de hipnose, abusava sexualmente dos adolescentes”, explicou a delegada.

O caso foi enquadrado como estupro de vulnerável, conforme o artigo 217-A, §1º, do Código Penal Brasileiro. Mesmo sem violência física ou ameaças explícitas, a Polícia Civil e o Ministério Público entenderam que os adolescentes — todos maiores de 14 anos — estavam em estado de vulnerabilidade durante os atos, por não conseguirem resistir à hipnose.

“Mesmo sem violência física, as vítimas estavam em um estado de total submissão. Isso configura vulnerabilidade, e a Justiça entende que não é necessário o uso da força para caracterizar o estupro nesse contexto”, afirmou Luiza Jacob.

As sessões de abuso aconteceram em quatro ocasiões distintas: três vezes na residência do pastor e uma no banheiro de uma igreja local, conforme os depoimentos colhidos. As vítimas relataram que o acusado dizia ser “um enviado de Deus” com poderes para curar doenças emocionais e espirituais. Segundo os investigadores, essa promessa era a porta de entrada para a manipulação psicológica.

Comunidade em choque e investigação em andamento

O caso abalou a pequena comunidade do distrito de Maimbá, onde o pastor era conhecido por organizar cultos e encontros religiosos alternativos. “Muita gente confiava nele. Jamais imaginaríamos algo assim”, disse uma moradora que preferiu não se identificar.

A Polícia Civil não descarta a possibilidade de haver mais vítimas. “Sabemos que, em casos como esse, muitas pessoas têm medo de denunciar por vergonha ou pressão social. Por isso, as investigações continuam, e outras vítimas podem vir a público”, ressaltou a delegada.

O Ministério Público do Espírito Santo acompanha o caso e pode oferecer denúncia formal nas próximas semanas. Caso condenado, o pastor poderá cumprir pena de até 15 anos de prisão por cada crime comprovado.

Como o crime é tipificado pela lei brasileira

O artigo 217-A do Código Penal trata do estupro de vulnerável, caracterizado pelo ato sexual ou libidinoso com menores de 14 anos — ou com pessoas que, por enfermidade ou outra condição, não tenham o necessário discernimento para a prática do ato ou não possam oferecer resistência.

§1º: “Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas com alguém que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.”

É justamente esse parágrafo que embasa a acusação: ainda que as vítimas tenham mais de 14 anos, o estado de hipnose gerado pelo acusado tornava-as incapazes de se defender, segundo a análise da Polícia Civil e do MP.

Canal de denúncia e apoio às vítimas

A Polícia Civil orienta que adolescentes que tenham tido contato com o suspeito e que possam ter sido vítimas de abuso procurem a delegacia mais próxima ou entrem em contato com o Disque 100. O anonimato é garantido.

Fonte: Revista Fórum

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