Cabul, 15 de agosto de 2021. A imagem lembra a perturbada fuga dos americanos do Vietnã em abril de 1975, quando as tropas da Frente de Libertação Nacional (FNL) entraram em Saigon e milhares de vietnamitas – que tinham mais ou menos trabalhado para os Estados Unidos – se reuniram na frente da embaixada americana de onde os helicópteros decolaram levando a bordo os últimos soldados e diplomatas, abandonando a multidão.
Com a entrada do Talibã em 15 de agosto, na capital afegã, todas as representações diplomáticas se transferiram ao aeroporto de Cabul, protegido por 5.000 soldados americanos, para evacuar o país.
Milhares de afegãos também se reuniram em frente ao aeroporto, tentaram acessar o asfalto, e os soldados americanos, por prevenção, instalaram arame farpado e até atiraram para o alto.
Em dez dias, após a efetiva retirada das tropas americanas, o Talibã conquistou todo o Afeganistão, sem grande dificuldade, o exército afegão se dissolvendo. O Presidente da dita República Islâmica do Afeganistão deixou o país em 14 de agosto para refugiar-se no exterior. Na noite de 15 de agosto, 66 países, incluindo França e Estados Unidos, apelaram ao Talibã, uma quase-súplica, pedindo-lhe deixar os estrangeiros irem embora pacificamente do país.
Esses desenvolvimentos que terão consequências em toda a região, mas também em escala global, sublinham a fraqueza do imperialismo americano, que certa vez afirmou ser o gendarme do mundo. Esta situação acentua e aprofunda a crise nos Estados Unidos mesmo.
Trump acaba de pedir a demissão de Biden, esquecendo, de passagem, que foi ele quem iniciou o processo de retirada das tropas americanas do Afeganistão, Biden apenas seguindo esta política.
Mas não se limita a Trump. Muitas vozes da classe política da América estão alarmadas com esta situação. Tal como o diário Le Monde, terça-feira: “A coerência reivindicada por Joe Biden é a de sua política externa: focada na rivalidade com China, recusando todo desperdício humano, militar e financeiro em compromissos exteriores infinitos. Este argumento pesa pouco diante da impressão de desconcerto e improvisação que acompanha o retirada americana. Uma retirada ‘difícil e bagunçada’, admitiu o presidente”.
E essa situação se relaciona à toda a crise que os Estados Unidos estão passando, a suas relações com a China, com a crise econômica que ameaça explodir a qualquer momento, mas também com as mobilizações que reuniram negros, jovens brancos, latinos, sindicalistas.
As imagens são enganosas, porque é não o Vietnã de 1975. Essa é uma outra situação mundial. A URSS e o aparelho do stalinismo internacional desapareceu.
15 anos depois, os Estados Unidos foram capazes de desencadear uma das mais extensas operações militares durante a primeira Guerra do Golfo, e, então, em 2003, a segunda Guerra do Golfo, destruindo o Iraque. Em 2001, após os ataques terroristas 11 de setembro, eles intervieram no Afeganistão, derrubando o regime do Talibã e estabelecendo um estado-fantoche conhecido como República Islâmica do Afeganistão.
Em 2021, os Estados Unidos concentram todas as contradições da ordem mundial, o que está acima de suas forças. Um novo período se abre para os Estados Unidos e, portanto, no mundo.
Fonte: O Trabalho