Natércia Lopes – Matemática, Doutora em Ciências da Educação e Professora da UNEAL e Semed/Maceió
Maio é um mês cheio de significados para quem é da área da Matemática. No dia 6, é comemorado o Dia Nacional da Matemática, exatamente no dia da Coragem – uma virtude que acompanha a todas/os as/os que estão na área de exatas e que buscam superar as intimidações.
No dia 12, perdemos o patrono da Educação Matemática no Brasil, Ubiratan D’Ambrosio, que sempre defendia uma maior presença feminina na Matemática, principalmente neste dia 12, em que é comemorado o Dia Internacional das Mulheres na Matemática, devido ao nascimento de Maryam Mirzakhani.
Maryam, nasceu em 12 de maio de 1977, no Teerã. Em seu registro, só há o nome do pai, que era engenheiro. Cabe ressaltar que no Teerã, se os pais não forem legalmente casados ou se a mãe não for iraniana, ou a criança não é registrada ou só recebe o nome do pai. Não se sabe se foi essa a razão.
Mirzakhani estudou em escolas públicas e se graduou em Matemática pela Universidade de Tecnologia de Sharif, aos 22 anos. Devido ao seu potencial para a área de exatas, foi aprovada no doutorado em Matemática na Universidade de Harvard, concluindo-o em 2004, aos 27 anos. Em 2005, casou-se com Jan Vondrak, Cientista da Computação e Matemático, professor em Stanford. Teve uma filha a quem chamou de Anahita Vondráková, nome da deusa iraniana da fertilidade, também traduzida em persa como imaculada.
Maryam tem seu berço num dos países com as maiores desigualdade de gênero do mundo, segundo o “Global Gender Gap Report”. No Irã, a renda de uma mulher é, em média, apenas 18% da do homem. Após a Revolução Islâmica de 1979, as mulheres foram obrigadas a usar o hijab (único país no mundo que possui essa compulsoriedade). Assim, as roupas não podem marcar seus corpos e nem serem decotadas. As mulheres não podem ir à praia com homens, nem usar trajes de banho em público, como também são barradas em estádios de futebol. Além disso, é proibido o acesso de mulheres a redes sociais, como whatsapp, instagram e facebook. O próprio regime possui seus veículos de informação e acesso à internet também é controlado.
Maryam Mirzakhani, de 1,57m e 50 kg, após ganhar várias medalhas de ouro nas Olimpíadas Internacionais de Matemática, sendo a primeira aos 17 anos. Tornou-se professora titular na Universidade de Stanford em 2008 e foi agraciada, em 2014, quando já lutava contra um câncer de mama, com a Medalha Fields a maior honraria que um Matemático pode receber, considerado o Prêmio Nobel de Matemática, que a cada quatro anos é oferecido a, no máximo, quatro matemáticas/os, com até 40 anos, devido à sua genialidade e grande contribuição à Matemática. Com uma plateia formada por homens, Maryam subiu ao palco para receber o maior prêmio da área.
Três anos depois, aos 40 anos, Maryam faleceu.
E o que os 45 anos de Maryam Mirzakhani tem a nos ensinar? Ao assistir “Secrets of the Surface: The Mathematical Vision of Maryam Mirzakhani”, é possível perceber o quanto Maryam lutou para poder estudar num País em que as mulheres perderam todos os seus direitos com a Revolução Islâmica e passaram a ser controladas a partir das regras da Sharia, o sistema jurídico do Islã. Numa área mundialmente dominada pelo sexo masculino, Maryam se destacou, enfrentou os preconceitos e, mesmo quando começou a morar nos EUA, fazia questão de compartilhar com as mulheres iranianas suas descobertas. Ela não se subordinava a condutas machistas e desafiava o poder local, além de que se negava a usar o hijab quando visitava a família.
Em Harvard, ela continuava a fazer suas anotações sem abandonar suas origens. Tudo o que escrevia era em sua língua materna: o persa. Distinguida pela determinação e questionamentos implacáveis, Maryam não admitia que ninguém dissesse que se destacar como Matemática era impossível para uma mulher.
Uma célebre frase de Maryam mostra o quanto ela aprendeu com o sofrimento que foi imposto a ela durante seus estudos. Maryam era capaz de suportar a dor, as dificuldades, sem nunca desistir para poder atingir seu objetivo. Ela dizia que “a beleza da Matemática só se revela a quem a persegue pacientemente”.
A indicação do Dia Internacional das Mulheres na Matemática foi feita por Curtis McMullen, orientador de Maryam no doutorado, por ela ter uma ambição destemida quando se tratava de Matemática.
Em sua Matemática, Maryam usava a geometria algébrica, diferencial e complexa, sistemas dinâmicos, probabilidade, topologia de dimensão baixa, numa integração surpreendente, que nos mostra o quanto ela conseguia extrair a beleza da Matemática de forma elegante. Ao transitar por uma Matemática dura de forma leve e ávida, Maryam inspira as mulheres a lutarem pelo que acreditam, a não abandonarem seus objetivos e a celebrarem suas conquistas.
Maryam teve na Matemática alemã Emmy Noether¹, a ‘mãe da álgebra moderna’, seu estímulo para seguir na Matemática. Atualmente, tem-se nessas mulheres inspiração para muitas vidas.
Coragem!
¹ Emmy Noether nasceu na Alemanha, em 23 de março de 1882, e faleceu em 14 de abril de 1935, estudou Matemática num período em que as mulheres ainda eram proibidas de entrar na universidade. Quando se formou, por ser mulher, precisou de autorização para dar aula. Teve a autorização consentida, porém, seu salário deveria ser dado a um professor, assim como todas suas produções deveriam ser publicadas no nome de um homem. Para Albert Einstein, “Emmy Noether foi o gênio matemático criativo mais importante que já existiu desde que as mulheres passaram a ter acesso à educação superior”.