Por Ricardo Nêggo Tom

E se Jesus voltar com aquele discurso esquerdista de defesa dos mais pobres? O pastor Wilson Botelho já sabe o que fazer com ele

Wilson Botelho é um pastor evangélico da cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. Bolsonarista raiz e aliado do prefeito da cidade, Gleidson Azevedo (Novo), que é irmão do Senador Cleitinho – outro bolsonarista de quatro costados – ele exerce o seu papel de cidadão expulsando pessoas em situação de rua da sua cidade. 

Isso mesmo que você acabou de ler. Pastor Wilson é uma espécie de xerife daquele condado mineiro, e não permite que pessoas permaneçam nas ruas sem a sua permissão. O ungido do senhor foi convidado para uma sessão da Comissão de Justiça, Legislação e Redação, na Câmara Municipal de Divinópolis, onde a pauta visava encontrar soluções para as pessoas em situação de rua.

 O evangélico iniciou a sua fala saudando a todos com a paz de Jesus e distribuindo bênçãos em nome de Deus, para segundos depois confessar, sem meias palavras e em plena casa parlamentar, que manda matar com 2 tiros na cabeça os moradores de rua que se recusam a sair da cidade. Se Charlie Kirk não tivesse morrido – e lamentamos a sua morte, apesar de sua vida – certamente chegaria à idade do pastor Wilson propagando as mesmas ideias evangélico-reacionárias, e promovendo as mesmas “ações cristãs afirmativas”, tendo a Bíblia e Jesus como fonte de amor e inspiração. O pastor ainda criticou quem distribui sopa para pessoas em situação de rua, e disse que elas estão “engordando vagabundos e pilantras” que representam “tudo quanto é tipo de desgraça de ser humano”.

O pastor Wilson é um desavergonhado cívico, um biltre evangélico, um cristão abutre que deveria ter saído preso desta sessão, se os parlamentares presentes não fossem omissos ou cúmplices com o seu discurso de ódio contra pessoas em condição de vulnerabilidade. Em que pese a Câmara tenha emitido uma nota de repúdio assinada pelo seu presidente, o vereador Israel da farmácia (Progressistas), classificando as falas do pastor como “inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática”, cabe a esta mesma Câmara providenciar a punição dos parlamentares que não se manifestaram durante o culto ao nazismo ministrado por Wilson Botelho e suas dependências, e que foi aplaudido ao seu final por boa parte dos desavisados presentes.

É possível que durante o culto deste domingo, a igreja de Kid Wilson – o pastor pistoleiro de Divinópolis – esteja louvando a Deus através da “unção” de um potencial assassino confesso. Algo que não acontece apenas em sua jurisdição religiosa, mas em muitas outras espalhadas pelo país, onde os líderes pregam o ódio às diferenças como virtude divina e a morte dos “indesejáveis” como dever moral. Um evangelho que coloca Jesus sentado à extrema-direita do pai, segurando um fuzil e apontando para cada um que não cumpre os mandamentos dos pastores que brincam de ser Deus na terra. Espero que pastor Wilson matador não seja vítima das ideias que defende, assim como o mancebo conservador estadunidense que só queria louvar a Deus oprimindo minorias.

 Que Deus – não aquele que Wilson e Charlie creem, mas o espírito de amor que os bolsonaristas nunca conheceram e nem conhecerão – o defenda de si mesmo e de sua estupidez desumana. E o fato de ele se sentir à vontade para professar o seu ativismo miliciano dentro de uma casa parlamentar, é mais um recorte sobre o potencial nocivo e destruidor da presença da extrema-direita na política. Sobretudo, das bancadas da Bíblia e da bala. Um culto a violência, a falta de empatia e a morte. É por isso que não pode haver anistia para nenhum bolsonarista envolvido no 08/01. Nenhum. Essa gente tem o corpo bélico, a pele fardada, o espírito violento e a alma criminosa. A punição a eles precisa ser pedagógica e exemplar, para que não voltem a fazer e nem sirvam de mal exemplo para outros tentarem a mesma ação.

Esperamos também um posicionamento do Ministério Público de Minas Gerais, com relação às falas criminosas do pastor justiceiro. Caso este senhor – e também o Coronel da Polícia Militar que ele revela durante a sessão ter lhe dado carta branca para agir na região – não sejam punidos, abre um perigoso precedente para que outros bolsonaristas também se sintam na obrigação de exercerem sua cidadania ameaçando moradores de rua com dois tiros na cabeça. E que Jesus Cristo não volte tão cedo, ou fique longe de Divinópolis. Pois se ele voltar com aquele papinho piegas e humanitário de repartir o pão e de amar ao próximo como a ti mesmo, o pastor Wilson já sabe o que fazer com ele.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Fonte: Brasil 247

Deixe uma resposta