Durante décadas, grupos de consumidores têm denunciado a “violência silenciosa”, provocada pela ganância ilimitada e negligência criminosa dos planos de saúde estadunidenses, mas os casos não ganhavam mídia por lá. O caso do assassinato do CEO da empresa UnitedHealthCare Brian Thompson por Luigi Mangione, de 26 anos, chamou a atenção para a crise na saúde que o país enfrenta há anos.

Em um artigo publicado no portal de notícias americano “Commons Dreams”, intitulado ‘The ‘Silent Violence’ of Corporate Greed and Power’, ou “A ‘violência silenciosa’ da ganância e do poder corporativo”, o especialista em direito do consumidor e político Ralph Nader traçou uma análise desse cenário.https://ced4757e21321ac00ae34becf4d52b70.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html?n=0

“Sabem que as histórias um dia cairão no esquecimento, bastando que fiquem em silêncio ou murmurem arrependimentos genéricos, prometendo melhorias vagas em seus produtos e serviços”, escreve ele. “Por trás desses números estão pessoas reais, com famílias, amigos e colegas de trabalho — chocados, indignados ou desolados com perdas de vidas evitáveis e danos preveníveis.”https://ced4757e21321ac00ae34becf4d52b70.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html?n=0

Segundo Nader, em média, dois mil americanos morrem semanalmente porque não têm como pagar por um seguro de saúde que cubra diagnósticos e tratamentos imediatos. Isso equivale a 100 mil mortes por ano por falta de acesso à saúde. As seguradoras de saúde também contribuem para isso ao usar algoritmos que negam ou atrasam tratamentos necessários, sem revisar adequadamente os registros médicos ou consultar os profissionais de saúde.https://d-38082781672949700006.ampproject.net/2410292120000/frame.html

Nos últimos dois meses, os consumidores têm sido bombardeados com uma enxurrada de anúncios televisivos de grandes seguradoras, como Aetna, Cigna e Humana, promovendo seus planos Medicare (dis) Advantage para beneficiários idosos. Os anúncios tentam apresentar essas empresas como instituições de caridade, quando, na verdade, elas só querem lucrar. De fato, a negação de benefícios é mais frequente nesses planos do que no próprio Medicare, o sistema de saúde público não universal dos EUA. Além disso, esses planos forçam os pacientes a se limitarem a redes restritas de médicos e hospitais e os submetem a um uso excessivo e prejudicial de “autorizações prévias”.

A expressão significa que um membro da empresa, geralmente distante, decide se o paciente tem direito ao reembolso de um tratamento específico. Como resultado, médicos enfrentam uma carga burocrática pesada, as empresas acumulam lucros imensos e os pacientes recebem tratamentos ruins e ineficientes.

Em outubro do ano passado, a NBC lançou uma reportagem intitulada “Negar, negar, negar: Ao recusar pedidos, os planos Medicare Advantage prejudicam hospitais rurais e pacientes”. Escrita pela jornalista Gretchen Morgenson, a matéria expôs mais uma consequência mortal dos planos Medicare (des)Vantagem, agora afetando os hospitais rurais nos Estados Unidos.

“Essas empresas estão tão enraizadas que se tornaram amplamente imunes a denúncias. Manipulam o sistema para restringir tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde. A indústria da saúde pratica cerca de 360 bilhões de dólares em fraudes e abusos de cobrança informatizada todos os anos”, diz Nader.

Outras mortes

Mortes por outros motivos aumentam a cada ano, em vez de diminuírem. Um estudo de 2016, realizado por médicos da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, revelou que pelo menos 5 mil pessoas morrem por semana em hospitais nos Estados Unidos devido a “problemas evitáveis”. 

Este é apenas um exemplo de muitos estudos sobre infecções hospitalares, uso excessivo de antibióticos, práticas inadequadas e o que é chamado de “erro médico” – incluindo prescrições equivocadas, “acidentes”, falta de qualificação e escassez de pessoal. Contudo, não houve nenhuma mobilização significativa por parte das autoridades governamentais ou dos executivos do setor para enfrentar essa tragédia, que resulta em pelo menos 250 mil mortes anuais.

Fonte: Revista Fórum

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