Caso ocorrido no MS mostra a barbárie do sistema prisional brasileiro e desnuda a cultura de violência contra as mulheres numa sociedade em que elas não podem confiar nem nas autoridades
O sistema prisional brasileiro é um dos piores do mundo e isso não é novidade para ninguém. O país também é um dos que mais registra crimes contra as mulheres. Um caso ocorrido há três semanas numa cadeia pública da cidade de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul, conseguiu reunir essas duas barbaridades numa só cena.
Uma mulher de 28 anos, que estava presa na área feminina de uma delegacia que serve como centro provisório de detenção no município de 58 mil habitantes, foi estuprada por um policial civil que trabalhava no local e era responsável pelo monitoramento dos custodiados. O crime, dantesco e absurdo, foi denunciado por outros presos que são abrigados na ala masculina do DP.
Entre 4 e 11 de abril, segundo a vítima, um investigador do DP sede de Sidrolândia teria ido até o setor onde ela se encontrava presa e a teria levado para uma repartição chamada de “Sala Lilás”, destinada a mulheres vítimas de estupro e que precisam ficar protegidas de seus agressores e serem acolhidas. De acordo com a detenta, com a desculpa de que seu advogado estava no local para visitá-la, o agente a conduzia para a área protegida e a estuprava.
Como a jovem chorava muito durante a noite, os outros presos, conversando com ela do outro lado da parede, escutaram os relatos aterrorizantes dos abusos sexuais. Eles, então, passaram a questionar o policial sobre o fato, que só dizia ser uma mentira contada por parte da mulher. Ao notar que seria denunciado, ou até mesmo vítima de uma vingança por parte dos custodiados, que estavam revoltados com o crime, o investigador teria dado celulares como forma de comprar o silêncio dos homens detidos.
Eles até aceitaram a oferta, mas alguns dias depois resolveram denunciar os estupros e decidiram exigir a presença do delegado titular de Sidrolândia para formalizar as acusações contra seu subordinado. O fato foi levado ao conhecimento do juiz corregedor dos presídios daquela região sul-mato-grossense, que decidiu encaminhar as denúncias ao Ministério Público.
Nesta quarta-feira (4), a Justiça do Mato Grosso do Sul decidiu pelo indiciamento do investigador. A juíza Silvia Eliane Tedardi da Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia, determinou que ele responda por estupro e siga preso no 3°DP de Campo Grande, onde está há alguns dias.
O magistrado responsável pela ação à qual responde a jovem estuprada, em face das circunstâncias e também em razão da menor gravidade do crime cometido por ela (que não foi revelado), determinou que ela fosse solta para responder ao processo em liberdade.
Fonte: Revista Forúm