Aumento explosivo no valor da tarifa e falta de água durante o calor escaldante dos últimos dias, que frequentemente ultrapassa os 30°C neste verão, são alguns dos transtornos sofridos pela população paulista após a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), ocorrida em julho de 2024. 

Moradores da Grande São Paulo vêm enfrentando interrupções recorrentes no abastecimento de água há cerca de dois meses. A mesma situação é registrada nas regiões do Butantã, na Zona Oeste da capital paulista, na Guarapiranga, na Zona Sul, e no município de Embu das Artes, conforme reportagem do SP1, da Rede Globo.

“A gente está ficando sem água várias vezes por semana, disse Karin Mickenhagen, moradora do Butantã. “A Sabesp manda um pouco para abastecer basicamente o bairro, mas de uma maneira muito pontual”, e “depois a gente fica, às vezes dois dias sem lavar louça, sem lavar roupa, sem poder tomar banho, completa Karin. 

Sinara Aiolfe, outra consumidora do Butantan, relata que está utilizando galões de água para fazer a higienização dos alimentos e manter seu negócio funcionando. “Na semana retrasada, nós ficamos quatro dias sem água, então tá muito difícil”, disse ao portal.  “Quando recebemos, a água veio totalmente escura, não é a água que nós estamos acostumadas”, contou Sinara. 

“Para lavar todos os legumes, verduras, frutas é água de galão”, explicou a cliente. “E nós mantemos baldes para poder fazer a limpeza do chão, banheiro, nós mantemos sempre para não ter essa falta”, mas, “mesmo assim, é horrível para nós”, disse a empresária.

Além da falta de água, a população enfrenta dificuldades em obter informações por parte da companhia, privatizada em julho de 2024. De acordo com o professor de física Leonardo Crochik, quando a Sabesp dá algum retorno, a desculpa é sempre a mesma: manutenção emergencial.

“É uma manutenção de emergência que aparece a cada semana, desde dezembro tem sido assim”, disse. “Um imprevisto que acontece toda semana não é imprevisto”, criticou o docente. 

À TV Globo, a Sabesp disse que enviará equipes aos locais citados pela reportagem para verificar a situação. Alegou também que, nos últimos dias, o aumento da temperatura elevou o consumo de água, o que, segundo a empresa, tem afetado a recuperação dos reservatórios e gerado instabilidade no fornecimento.

CONTAS QUE MULTIPLICAM

As reclamações dos consumidores sobre a elevação do preço da conta de água têm se espalhado nas redes sociais nos últimos meses. Ressalte-se que todos os reclamantes apresentam suas contas impressas. “Tarcísio, você só quis voto. Eu me arrependi de ter votado em você. Olha aqui a minha conta de água. Era R$ 68, agora é R$ 468. É justo? Você vai pagar pra mim?”, critica uma consumidora. “Vinha R$ 64, hoje a minha conta de água tá vindo R$ 265. Sem água ninguém vive. Ou eu como, ou eu pago a conta de água. Tarcísio, isso é um absurdo o que você fez”, diz outra cliente. 

Outra moradora denuncia o preço extorsivo na taxa de água. “Até uns bons três meses atrás, vinha R$ 17. E agora? R$ 5.543! Esse governador Tarcísio é um ‘fdp”, me desculpa o termo, mas ninguém tá aceitando o que tá acontecendo […]”. 

Outra consumidora reclama que a sua residência não estava sendo habitada, pois estava viajando. Ao retornar, foi surpreendia pelo valor da conta de água, que mais que triplicou. “A minha conta de água vinha R$ 21,87. Pra mim (sic) pagar agora, tem R$ 77,13. E eu não tava nem aí (na residência), a casa fechada”.

Um grupo de consumidores da Vila Maria reclama que paga pelos serviços da Sabesp, mas é a população que tem que realizar a manutenção do esgoto. “Aqui na zona Norte, na Vila Maria, a gente paga R$ 50 de água e R$ 50 de esgoto. Só que o esgoto, quem tem que fazer a manutenção somos nós mesmos”, revela. “Nós estamos pagando para nós mesmo fazermos a manutenção. Eles não fazem manutenção, mas cobram da gente”. “Em corro, os moradores entoam: “E aí, Tarcísio, vai pagar nossa conta?”. 

O deputado estadual (PT) Antonio Donato, crítico da entrega da companhia à iniciativa privada, diz que “a conta da privatização da Sabesp começou a chegar. E quem tá pagando esse pato, em primeiro lugar, são os mais pobres”, ressalta. São dezenas de milhares de casos de explosão da conta de água. Enquanto isso o governador. Enquanto isso, o governador foi aos Estados Unidos, receber uma premiação de uma revista “que ninguém conhece”, aponta o parlamentar. 

No último dia 30, o governador paulista foi premiado na categoria “Equity Follow-on of the Year”, durante a realização do “Deals of the Year Awars”, prêmio anual da revista LatinFinance, por repassar o controle da Sabesp a interesses privados. A publicação atua na cobertura do mercado financeiro da América Latina e do Caribe.

Durante a campanha de privatização da Sabesp, uma das promessas do governo era justamente de que as tarifas não seriam reajustadas. Aqueles que se opunham ao processo, sustentavam o contrário, o que ora se confirma. 

A transferência da então estatal foi concluída em julho do ano passado, por meio de um follow-on, também conhecido como oferta subsequente de ações, que ocorre quando uma empresa já listada na Bolsa de Valores emite novas ações.

Esse processo de concessão à iniciativa privada enfrentou várias contestações por parte dos trabalhadores do setor. Um estudo realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) denunciou que o governo de Tarcísio vendeu as ações da empresa a um preço 44% inferior ao valor real da companhia.

Fonte: Hora do Povo

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