Após um mês de piquetes de greve e bloqueios, a paralisação do país continuava no dia 29/11 quando um ministro veio tentar intimidar a mobilização nesta colônia francesa de 400 mil habitantes no Caribe. Dezenas de milhares se manifestaram e a luta continuou, liderada pelo LKP – em creole sigla do Coletivo Contra a Exploração -, uma coalizão de 50 organizações sindicais e populares nascida na greve geral de 2009.
O governo Macron tentou, então, desviar para a discussão da “autonomia” que não consta da pauta da luta contra a obrigação vacinal e por uma ampla gama de reivindicações contra demissões, suspensão de contratos, fechamentos na saúde, empregos para jovens etc.
O movimento já transbordou para a vizinha colônia da Martinica.
Publicamos abaixo duas notas esclarecedoras, para furar o ensurdecedor silêncio das agências internacionais e da imprensa brasileira.
J.A.L.
“Comunicado Coletivo de Organizações em luta contra a vacinação obrigatória, o passe sanitário e pelo acesso aos cuidados médicos
Dia 29 de novembro, uma delegação do Coletivo reuniu-se com Lecornu, ministro dos Territórios de Ultramar, na sede do governo colonial transformado em fortaleza. Recordamos ao ministro fatos históricos que a concentração de tropas na Place de La Victoire faz lembrar: o restabelecimento da escravidão em 1802 pela República Francesa, bem como os massacres de maio de 1967 quando os corpos dos guadalupenses assassinados foram jogados na praça.
Mostramos também que vir a Guadalupe por um dia e nos dedicar duas horas não é uma saída para a crise e que era essencial abrir as negociações com todas as partes para chegar a um acordo.
Entregamos uma cópia de nossa plataforma de reivindicações e também uma proposta de acordo de método, com temas e calendários. Informamos que estávamos à sua disposição e encerramos o encontro.
O ministro, por sua vez, fez um breve relato, lembrou generalidades conhecidas por todos sobre a situação em Guadalupe, a água, os sargaços (“maré marrom” – NdT), chlordecone (inseticida francês que infectou 90% da população de Guadalupe e Martinica nos anos 70/90, escândalo revelado que gerou grandes manifestações em março último – NdT), a situação dos jovens (desemprego jovem oficial de 65% – NdT) … para nos dar a impressão de que se interessava por Guadalupe.
Este é, em resumo, o conteúdo do intercâmbio com o ministro. Na verdade, ele não veio negociar, mas para impor sua palavra, as decisões tomadas em Paris. De fato, seu único anúncio é o envio de gendarmes e GIGN (forças especiais da Aeronáutica – NdT) adicionais.
Sem dúvida, o ministro das últimas colônias acomoda-se em uma posição de desprezo e de negação da gravidade da situação sanitária e social de Guadalupe. Diante do autoritarismo colonial, só existe uma posição: fortalecer as nossas exigências e a determinação em conquistar as reivindicações justas e legítimas.
Mais do que nunca, as organizações sindicais, políticas, culturais, cidadãs, agrupadas neste vasto movimento popular contra o passe sanitário, contra a vacinação obrigatória, pelo acesso aos cuidados médicos e pela defesa dos direitos e das liberdades:
Denunciam o desprezo do ministro pelo povo de Guadalupe.
Afirmam a evidência do fracasso da implementação de políticas públicas para reduzir as desigualdades, o subemprego, a crise de sanitária, a miséria e a pobreza.
Exigem a abertura de negociações da plataforma protocolada em 2 de setembro e do projeto de acordo de método de 29 de novembro.
Conclamam a fortalecer os piquetes populares em todos os lugares até que as reivindicações sejam atendidas.”
Fonte: O Trabalho