A montadora demitiu 800 trabalhadores de São José dos Campos, 300 de São Caetano do Sul e 100 de Mogi das Cruzes
Diante de uma greve de 11,5 mil metalúrgicos que desde a última segunda-feira (23) mantém três fábricas da General Motors (GM) paradas no estado de São Paulo, os primeiros encontros entre trabalhadores e empresa não tiveram acordo. A próxima reunião acontecerá nesta sexta-feira (27). Segundo os grevistas, “as fábricas só voltam a rodar” com a readmissão de 1,2 mil trabalhadores que foram mandados embora.
A demissão de cerca de 10% do quadro de funcionários somado das fábricas da GM em São José dos Campos, São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes aconteceu no último sábado (21), por e-mail e telegrama. Em nota, a gigante da indústria automotiva informou que “a adequação é necessária” por conta da “queda nas vendas e nas exportações”.
De acordo com David Martins de Carvalho, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, trabalhadores seguem recebendo telegramas de demissão ao longo dos últimos dias.
A surpresa com que o corte chegou aos sindicalistas ouvidos pelo Brasil de Fato não foi só por conta de as montadoras de carros no país terem recebido, desde junho, R$ 800 milhões de isenção fiscal pelo programa de incentivo do governo federal.
Mas também porque a demissão em massa representa a quebra de um acordo. Desde o último 3 de julho, cerca de 1,2 mil metalúrgicos da montadora estão em lay-off, ou seja, com seus contratos de trabalho suspensos temporariamente. A medida foi firmada com o sindicato e tinha, como contrapartida, a garantia de estabilidade de emprego para todos os funcionários da empresa até 3 de maio de 2024.
“Foi uma medida totalmente arbitrária, sem nenhuma compaixão com ninguém. Inclusive mandando mulher e marido embora, deixando a família toda desempregada”, relata Carvalho. “A paralisação foi provocada pelos próprios trabalhadores, o sindicato respaldou”, explica Aparecido Inácio da Silva, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul.
Nesta sexta-feira (27), uma audiência de conciliação entre o sindicato de São José dos Campos e a General Motors acontece às 15h no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em Campinas. A discussão, no entanto, não será sobre a demanda dos grevistas. O tema é um processo de dissídio coletivo de greve movido pela empresa, ou seja, uma ação judicial questionando a legalidade da paralisação.
“A empresa está exclusivamente argumentando pela abusividade da greve. Portanto não estamos vendo a princípio nenhuma possibilidade de acordo”, avalia David Carvalho. “Então estamos sentindo que a GM vai tentar segurar, mas nós estamos também totalmente empenhados: só voltaremos ao trabalho se houver a suspensão das demissões”.
Também nesta sexta, às 10h, haverá uma reunião entre os sindicatos e a GM convocada pela superintendência do Ministério do Trabalho, na capital paulista.
O Brasil de Fato questionou a empresa sobre a continuidade da greve e a demanda dos trabalhadores, mas não teve resposta até o fechamento desta matéria.
Ato e uniformes na grade da fábrica
Além dos braços cruzados, a mobilização dos metalúrgicos nesta semana envolveu uma manifestação pelo centro de São José dos Campos na quinta (26) e uma intervenção na unidade produtiva da multinacional na quarta (25).
Tendo o cancelamento das demissões como exigência central voltada à General Motors, a passeata também contou com faixas e cartazes cobrando que o governo Lula (PT) e também o estadual, de Tarcísio de Freitas (Republicanos) tomem providências sobre o caso. “Empresa que recebe dinheiro público e isenção de impostos tem de ser proibida de fazer demissões”, dizia um dos cartazes.
Embora alegue queda nas vendas, a General Motors no Brasil produziu 88 mil veículos no terceiro trimestre de 2023, quantidade 12,8% maior que o mesmo período no ano passado. No âmbito mundial, a multinacional estadunidense registrou um lucro líquido de US$ 3,06 bilhões (mais de R$ 15 bilhões) neste trimestre.
Nas grades da fábrica de São José dos Campos, os trabalhadores penduraram cerca de 100 camisetas de seus uniformes, com escritos como “não às demissões”, “devolvam meu emprego”, “minha família sofreu muito” e “somos um único time”. Somente nesta unidade, a produção média é de 150 carros por dia.
“A greve continua até a gente suspender as demissões”, ressalta Valmir Mariano, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região: “Essa é a nossa expectativa. Por seguimos na luta constante”.
Fonte: Brasil de Fato