Entre lágrimas e cantos de “Palestina livre”, o filme de longa-metragem The Voice of Hind Rajab — A voz de Hind Rajab —, baseado em fatos reais, estreou no tradicional Festival de Cinema de Veneza, nesta quarta-feira (3), com uma ovação histórica de 23 minutos.
O drama, com ponto de partida em gravações do Crescente Vermelho, reconta as últimas horas de Hind Rajab, menina palestina de apenas seis anos morta na Cidade de Gaza por forças israelenses, em 29 de janeiro de 2024.
Rajab se viu presa em um carro com seus tios e três primos, mortos por disparos israelenses, quando conseguiu contato com socorristas locais. Nas gravações, ouve-se o apelo: “Por favor, venham. Estou com medo”.
Após três horas de espera, forças israelenses autorizaram passagem de uma ambulância, contudo, igualmente alvejada.
Dias depois, o corpo da menina foi encontrada com seus familiares, bem como dos dois socorristas que tentaram alcançá-la. A ambulância fora destruída.
A jornalistas, antes da sessão, o diretor franco-tunisiano Kaouther Ben Hania, conhecido por O Homem Que Vendeu Sua Pele (2020) denunciou redes de imprensa por aderirem à versão de que os mortos seriam “danos colaterais”
“Penso que é algo desumanizante”, explicou Ben Hania, “e é por isso que o cinema, a arte e toda forma de expressão é importantíssima para dar voz e rostos a essas pessoas”.
Via telefonema da Cidade de Gaza, à rede AFP, Wissam Hamada, mãe da menina, insistiu ter esperanças de que a obra ajude a dar fim ao genocídio.
Em junho de 2023, a sessão investigativa da Al Jazeera, em parceria com grupos forenses, reconstruiu em detalhes o incidente, ao revelar que um tanque israelense estava entre 13 e 23 metros do veículo da família, quando abriu fogo.
Um dossiê das Nações Unidas, de julho de 2024, confirmou disparos de “curta distância, com um tipo de arma que somente poderia se atribuir às forças de Israel”.
A 82ª edição de Veneza começou na em 27 de agosto, com protestos pró-Palestina, e se encerra em 6 de setembro, com a premiação do Leão de Ouro.
Conforme a rede de entretenimento Deadline, a produção executiva conta com os atores Brad Pitt, Joaquin Phoenix, Rooney Mara e os diretores Alfonso Cuarón (Roma) e Jonathan Glazer (Zona de Interesse).
A jornalista Jemima Khan, o cofundador e ex-executivo do estúdio Lionsgate Frank Giustra e a designer de joias Sabine Getty são também creditados.
Produtoras incluem Plan B, de Brad Pitt, e empresas regionais e internacionais, incluindo Film4, do Reino Unido, e MBC Studios, segundo a Deadline.
O filme deve viajar também a festivais em Toronto, San Sebastián, Busan e Londres, neste segundo semestre.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, com ao menos 63 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, destruição e fome. Entre as vítimas fatais, cerca de 18.500 são crianças.
Fonte: Monitor do Oriente