Mobilização espontânea iniciada em Los Angeles se espalha para outras cidades

A capa do “La Jornada”, importante jornal mexicano, deste 11 de junho anuncia o “Toque de recolher em LA” – sigla de Los Angeles – com o subtítulo: “Mobilizações contra redadas e repressão ocorrem em várias cidades”.

A repercussão das manifestações e protestos iniciados há seis dias em Los Angeles é enorme no México, o país com o maior número de imigrantes e seus descendentes nos EUA. Já ocorreram duas manifestações diante da embaixada “gringa” na Cidade do México com o slogan “Migrar no es delito”.

Em 9 de junho o mesmo “La Jornada” dizia em seu editorial: “Cedo ou tarde a ofensiva da presidência de Donald Trump contra os trabalhadores imigrantes tinha que desembocar numa onda de protestos”.  Para concluir que: “Trump se empenha em apagar com a gasolina da repressão militar o que pode ser o início de um grande incêndio social na superpotência.”

Além de Los Angeles, que é a segunda maior cidade dos EUA, protestos se espalharam para outras cidades com forte presença de imigrantes, dentre elas Nova York, Boston, San Francisco, Austin, Las Vegas, Atlanta e Portland.

Assim se desenha uma resistência de massas que, a partir dos imigrantes e cidadãos de origem latino-americana que a começaram de forma espontânea, ganha outros setores, inclusive sindicatos. Ninguém pode prever o quanto vai durar esse estalido social, mas desde já ele marca esse início de governo Trump.

Trump provoca também crise institucional

O envio de quatro mil membros da Guarda Nacional e de 700 “Marines” (fuzileiros navais) pelo governo federal, sem qualquer pedido, acordo ou solicitação do governador da Califórnia ou da prefeita de Los Angeles, ambos do partido Democrata, já provocou também uma crise institucional de conflito de poderes, deixando claro que Trump abusa de suas prerrogativas, o que certamente dará origem a recursos a tribunais e à Corte Suprema por parte de seus opositores.

Isso tudo num momento em que vem a público a troca de insultos e provocações entre os outrora amigos íntimos Trump e Elon Musk, o que certamente não contribui na coesão do MAGA – sigla do movimento “fazer a América grande de novo” –  demonstrando interesses distintos entre setores do grande capital que estavam unidos em torno ao atual ocupante da Casa Branca.    

Um papel especial é ocupado pela Polícia de Imigração, órgão federal cuja sigla em inglês é ICE. Ela é a responsável direta por redadas, invasões de domicílios e locais de trabalho na captura de “indocumentados”. Foi a pretexto de apoiar o seu trabalho – que teve fixada a meta de deportar 3 mil imigrantes “ilegais” por dia – que Trump enviou a Guarda Nacional e os “Marines” à Califórnia.

Prisão do sindicalista David Huerta

Dentre os manifestantes que protestavam contra os atropelos da ICE e que foram presos no dia  6 de junho, estava o presidente da seção californiana do sindicato SEIU (União Internacional dos empregados dos serviços), David Huerta. Ele foi liberado no dia 9 por uma juíza federal, graças à pressão de várias organizações políticas e sindicais. April Verrett, a presidente do SEIU, fez uma declaração após a sua saída da prisão da qual extraímos os trechos abaixo.

«David Huerta foi preso por defender os direitos dos imigrantes (…). Nesse momento as comunidades de imigrantes são aterrorizadas por forças militarizadas. O fato que o regime Trump tenha chamado a Guarda Nacional para atacar aqueles que não estão de acordo com ele é uma perigosa escalada. É uma ameaça à democracia. (…)

O SEIU combaterá sempre para proteger os direitos e a dignidade das pessoas que trabalham duro e pela segurança dos trabalhadores nos seus locais de trabalho. (…) É vergonhoso e injusto que essa administração tente dilacerar nossas famílias e comunidades, perturbar a vida das pessoas pacíficas que trabalham duro. Trata-se de uma nova tentativa de usar a raça e o país de origem das pessoas para nos dividir como americanos. Isso não passará. A América é uma nação de imigrantes. Os trabalhadores imigrantes são essenciais à nossa sociedade (…). Exigimos que todos os procedimentos de imigração respeitem os princípios regulares e que todos os detidos tenham acesso a uma representação jurídica e aos direitos garantidos pela Constituição.”

Esta reação de um importante sindicato como o SEIU demonstra a possibilidade de se operar a junção entre os milhares de manifestantes, que cansados de sofrer humilhações e violência se levantaram de forma espontânea contra a política migratória de Trump, e as organizações da classe trabalhadora, os sindicatos em primeiro lugar, mas também agrupamentos políticos e organizações populares de todo o país. A luta apenas se inicia.

Esse desenvolvimento recente da situação nos EUA reforça a necessidade de unir forças em defesa dos direitos dos imigrantes. Ganha importância assim a convocatória lançada por dirigentes sindicais e políticos mexicanos, que já conta com apoio em vários países, de uma Conferência Continental em defesa dos direitos dos migrantes e da soberania nacional, prevista para 27 de setembro na Cidade do México.

Fonte: O Trabalho

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