A coação a liberdade de imprensa caracteriza crime, assim, os seguranças da Braskem agiram como capangas, que desrespeitam a lei para defender os interesses de seus patões a qualquer custo. A empresa precisa ser responsabilizada.
A equipe de reportagem da Tribuna foi impedida de fazer imagens e coletar informações em local de desabamento de uma casa, no bairro do Pinheiro. Os profissionais chegaram ao local que não tinha nenhum aviso ou fitas de isolamento. Quando estavam no exercício da profissão foram coagidos por um representante da Defesa Civil Municipal e um segurança de uma empresa privada contratada pela Braskem.
Entenda o caso
Na manhã da sexta-feira (6), uma residência que já estava isolada na Rua Santa Júlia, no bairro do Pinheiro, um dos afetados pelas rachaduras nos imóveis e afundamento do solo devido à extração de sal-gema feita pela Braskem desabou e danificou outra. O desabamento assustou moradores que ainda residem na região.
Apesar do susto não houve relatos de vítimas, no entanto, o Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBM/AL), foi acionado para fazer os procedimentos cabíveis. Para a ocorrência, três viaturas com sete militares foram empregados. Além disso, mesmo sem vítimas, cães farejadores foram utilizados para identificar se havia alguém soterrado pelos escombros, por ser parte de procedimento padrão nesses casos.
A Defesa Civil Municipal informou que foram duas edificações e que foi adotado o protocolo padrão de isolar a área e acionar o Corpo de Bombeiros, que, de forma diligente, diagnosticou que não havia vítimas causadas pelo evento. Na sequência, sob a supervisão a equipe da Defesa Civil e dos Bombeiros, uma equipe contratada pela Braskem iniciou a retirada dos escombros de forma mecânica.
“O desabamento – que atingiu uma casa com dois andares e outra com apenas um – foi provocado, segundo informações preliminares, pelo volume de chuvas, que nesses dias chegou a mais de 200 mm. A primeira casa de dois andares estava destelhada e, com o acúmulo de água na laje superior, a inclinação da edificação foi potencializada. Além disso, a região sofre de uma movimentação contínua. A subsidência dos bairros em Maceió é objeto de ininterrupto monitoramento da Defesa Civil, como forma de adotar as medidas necessárias para lidar com a situação e garantir a segurança da população’’, diz trecho da nota.
Com o fato, a equipe de reportagem foi até o local colher informações de moradores que ainda residem na região e fazer imagens e conseguiu entrar no local – uma vez que não havia fita de isolamento e nem segurança passando informações, após a equipe iniciar seu trabalho, um representante da Defesa Civil Municipal chegou exaltado pedindo que a equipe se retirasse do espaço, pois não havia autorização por ser uma área privada e afirmou que a equipe furou um isolamento, algo que não aconteceu porque não havia faixas de isolamento.
Intimidação
“Eles chegaram me intimidando, pediram que eu fosse para trás de um caminhão que estava estacionado em frente à casa para conversar e, falei que não ia, que conversaria, mas eles teriam que ir até o carro da reportagem. Eles foram até o carro e me pediram para apagar as imagens alegando que era uma área privada e que a imprensa não tinha autorização de estar ali. Falei que não iria apagar porque as imagens não identificavam nenhum trabalhador e outros veículos de comunicação já haviam ido até o local, até equipes de TVs. Nisso, um dos seguranças responsável pela área chamou reforços’’, relata o repórter fotográfico Edilson Omena, que estava acompanhado do diretor administrativo-financeiro, Flávio Peixoto, da Cooperativa de Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas (Jorgraf) – detentora do jornal Tribuna Independente, portal Tribuna Hoje e TV Tribuna no Youtube, do repórter Lucas França e do motorista auxiliar Allan Rodrigues.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura para saber se de fato existia a proibição para a imprensa chegar ao local. E segundo a assessoria, a ordem de isolar o local para a retirada dos entulhos veio da Braskem.
Já a Braskem explicou que o imóvel fica em uma área já desocupada no bairro do Pinheiro e está vazio desde o dia 15 de setembro de 2020. E que no mês de novembro, um incêndio comprometeu a estrutura, situação que foi agravada com o período chuvoso. A Braskem tem um protocolo de segurança que proíbe o acesso a imóveis em situação de risco. Os três imóveis, localizados na Zona E do mapa da Defesa Civil, já ingressaram no fluxo de compensação. Por conta do colapso, a Defesa Civil foi acionada e recomendou a limpeza da área, com remoção do entulho e a demolição de outros imóveis já desocupados no entorno, o que deve ser feito nos próximos dias.
Em relação à intimidação dos seguranças, a Braskem disse que assim que foi comunicada sobre a situação relatada pela equipe de reportagem da Tribuna Independente, foi acionada imediatamente a empresa responsável pela segurança patrimonial nos bairros atingidos pelo fenômeno geológico, para que apure a situação e adote as providências necessárias. A Braskem reiterou o respeito ao trabalho da imprensa, fundamental para a cidadania e a democracia.
Sindjornal e Fenaj prestam solidariedade
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas (Sindjornal), Izaías Barbosa prestou solidariedade aos profissionais.
“Quero manifestar solidariedade aos profissionais da Tribuna Independente/tribunahoje.com que foram intimidados e impedidos de realizar seu trabalho de cobertura jornalística no bairro do Pinheiro onde ocorreu o desabamento de uma residência, a intimidação se deu por ordem de um representante da Defesa Civil da Prefeitura de Maceió, acompanhado de seguranças da Braskem. O Sindicato dos Jornalistas de Alagoas não admite intimidação contra o trabalho dos profissionais da imprensa e já informou a Federação Nacional dos Jornalistas sobre o ocorrido”, ressalta.
A Diretoria Executiva da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Valdice Gomes, também prestou solidariedade.
Fenaj
“A Fenaj é totalmente solidária aos profissionais da Tribuna Independente e do Tribuna Hoje, que foram impedidos de realizar o seu trabalho de cobertura jornalística em Maceió. Intimidar ou impedir a imprensa de realizar o seu trabalho de informar à população é uma violência inadmissível e condenável. É lamentável que agentes públicos ou privados prefiram esconder a realidade dos fatos com intimidação a esclarecer por meio da transparência. A Fenaj repudia veementemente qualquer ataque à liberdade de imprensa’’, afirma.
NOTA
A Defesa Civil de Maceió esclarece que seus agentes não intimidaram nenhum jornalista ou tentaram impedir que seu trabalho fosse realizado. No entanto, após invadir área isolada, o profissional foi orientado a sair do local, já que há risco de desabamento de outras residências. Não houve desrespeito da parte dos agentes, mas orientação já que se trata de local de risco.
A Defesa Civil, que está sempre à disposição da população e da imprensa, reforça a importância do jornalismo e o respeito aos profissionais da área, mas ressalta que a prioridade é sempre salvaguardar vidas.
A Tribuna refrisa que a equipe de reportagem, ao chegar no local, não encontrou nenhuma sinalização de isolamento da área ou qualquer outro tipo de orientação. Veículos e pedestres circulavam, normalmente, no bairro. “A reportagem da Tribuna Independente/tribunahoje.com fez vários contatos com a assessoria da Defesa Civil da Prefeitura de Maceió no dia de ontem e somente neste sábado (7) enviaram uma nota”.
Redação com Tribuna Hoje