Áudio em que ordena fim do locaute nas estradas é a prova de que Bolsonaro não age como presidente, mas como articulador de um golpe. Só o impeachment salva o Brasil do pior
Nas últimas horas, Jair Bolsonaro provou ser a maior ameaça ao Brasil. Ou o país se livra dele logo ou terá um caminho de reconstrução muito mais difícil e sofrido do que o que hoje já se apresenta. Ninguém mais pode ter dúvidas de que o ex-capitão não age como um presidente, mas como um agitador que atua em causa própria e que, se não for impedido, levará o país às ruínas.
Após incitar sua horda a ir às ruas no 7 de Setembro, num ato golpista que pregava o fim da democracia, Bolsonaro acabou por provocar uma paralisação das estradas, jogando o país ainda mais no caos social e econômico. Horas depois do início do locaute, bancado principalmente por parte do empresariado e do agronegócio que financiou os atos de terça-feira, o ocupante do Planalto gravou um áudio que acabou por se revelar a confissão de que é ele o líder de um motim contra a democracia, ou, falando mais claramente, de um golpe.
Na gravação, Bolsonaro não fala como presidente, mas como o chefe que passa orientações ao seu bando. “Dá um toque nos caras aí, se for possível, liberar, tá ok?, pra gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília aqui agora”, disse, antes de, num cinismo que sempre foi sua marca, fingir preocupação com o povo. “Fala para os caminhoneiros aí, que são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia, provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo aí, em especial os mais pobres”.
Talvez, Bolsonaro esteja mesmo preocupado com os efeitos da paralisação. Mas só se for porque ela, ao afetar a economia, pode prejudicar sua já decadente popularidade. Com os pobres, ele nunca se preocupou. Ou ele lutou para trazer vacinas rapidamente para o país, dar um auxílio emergencial digno, ou valorizar o salário mínimo? Ou não foi ele quem disse amém à política de Paulo Guedes e permitiu a volta da fome, o endividamento das famílias e a inflação galopante que recai ainda mais sobre o custo dos alimentos?
O mais grotesco é que a horda de fanáticos não acreditou no áudio de Bolsonaro. Precisou um de seus ministros, Tarcísio Freitas (Infraestrutura), gravar um vídeo confirmando que a mensagem era mesmo de Bolsonaro. Eis o grau de egoísmo de Bolsonaro: incita os seus a irem às ruas contra o Supremo Tribunal Federal para demonstrar uma força que já não tem e gera uma situação que pode facilmente fugir de controle, ameaçando todo o país.
Como explicou a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR): “Bolsonaro criou os corvos e agora ele e o Brasil são vítimas desse absurdo que é o locaute de caminhões de bolsonaristas. Irresponsável, está cometendo abuso de autoridade com toda essa guerra de ódio e fake news por poder”.
O mundo real
O grosso dos caminhoneiros não caiu no engodo de Bolsonaro. Wallace Landim, conhecido como Chorão e presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores, afirma que o locaute não representa a categoria. “Não estamos participando. (…) Está muito claro que esse movimento de hoje tem o pessoal do agronegócio bem forte junto. Em Brasília, 90% dos caminhões eram de empresas ou de pessoas que trabalham para o agro”, disse.
Não poderia ser diferente. Se fossem protestar com base na realidade, os caminhoneiros voltariam seu descontentamento para Bolsonaro, que deixa, de propósito, o preço dos combustíveis nas alturas. “STF não impede Bolsonaro de baixar preço da comida, do gás, da gasolina, do diesel, da conta de luz. Nem o impede de gerar emprego. STF atua se houver propina na vacina ou se um mentiroso quiser espalhar fake news. Esse é o pavor de Bolsonaro. Sem roubo e mentira, ele não existe”, ressaltou o líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS).
Faz tempo que Bolsonaro passou dos limites do aceitável. Agora, tenta mover o Brasil direto para o abismo. Aqueles que não agirem agora para interromper Bolsonaro serão lembrados como os que se omitiram quando o Brasil era atacado por um fascista que ocupava a cadeira de presidente. Há mais de 120 pedidos de impeachment entregues na Câmara, há crimes de responsabilidade de sobra, a população tem ido às ruas pelo fim deste governo. Os que protegem Bolsonaro continuarão seus cúmplices mesmo após o 7 de Setembro e seus desdobramentos?
Da Redação