Pacientes que precisam de hemodiálise para sobreviver ficam sem atendimento em SC por causa de bloqueios.
Os bloqueios em rodovias erguidos por bolsonaristas que pedem um golpe de Estado já estão levando ao desabastecimento de alimentos. Foi afetado o fornecimento de carne bovina e suína, aves e peixes, leite, hortaliças, legumes e frutas. Caso o transporte não seja normalizado com a retirada dos golpistas, a falta de produtos levará a mais inflação.
“A situação está bem bagunçada”, desabafa André Nicola, gerente da unidade de Chapecó (SC) da empresa Cantu, distribuidora de alimentos que atua em sete estados no país.
Não há estimativa do prejuízo para a unidade que distribui, em média, entre 40 e 50 toneladas por dia, mas Nicola alerta que já há falta de alimentos e que a situação “vai piorar”.
Por conta dos bloqueios e da incerteza de chegar ao destino, os caminhões não estão carregando os produtos das lavouras e interpostos. “Há uma quebra na cadeia de abastecimento. Isso provoca a falta de alguns itens e o aumento do preço dos alimentos no mercado”, explica.
Empresas proprietárias de frigoríficos em Santa Catarina já tiveram que interromper abates devido ao atraso nas cargas de bois, suínos e frangos. Para evitar que o problema continue, o que poderia levar ao desabastecimento, os caminhões estão sendo enviados a outras unidades.
O estado é um dos principais produtores de alimentos do país e, ao mesmo tempo, conta com uma quantidade grande de bloqueios, dada a votação expressiva que Bolsonaro teve nessa unidade da federação no último domingo. Isso afeta o escoamento, inclusive para a capital.
Em Florianópolis, um funcionário do Ceasa que pediu para não ser identificado disse que há uma redução no fluxo e que isso vai se refletir no abastecimento “provavelmente daqui uns dias”.
São Paulo já sente efeitos dos bloqueios.
A Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) afirmou, em nota, que entre a zero hora e as 10h desta terça (1º), caiu em 17% a quantidade de veículos que entraram no entreposto da Vila Leopoldina na capital. Culpa em parte do bloqueio das rodovias.
Ela descarta desabastecimento, mas funcionários dos permissionários da Ceagesp ouvidas pela reportagem afirmam o contrário.
Um deles, do setor de pescados, que falou sob condição de anonimato, contou que nessa madrugada chegaram “pouquíssimos caminhões, a maioria está parada na estrada”. E isso gerou falta de produtos.
Ele alerta para o risco de perder parte da produção, já que o pescado é armazenado em câmaras frias a diesel – sem combustível, ela permanece resfriada por aproximadamente 12 horas. “É bastante prejuízo. Quando a carga chegar vamos analisar as condições e, se for o caso, a produção é apreendida e destruída”.
Um funcionário estima que metade dos caminhões de hortaliças, legumes e frutas não chegaram na madrugada ao Ceagesp porque a maioria dos motoristas ficou parada na estrada. Isso também significa desabastecimento de determinados produtos. “Temos que trabalhar, temos que escoar a mercadoria. É lamentável, afeta o abastecimento, os preços, e quem sai prejudicada é a população”, afirma.
Cooperativas de laticínios que processam remessas de pequenos produtores das regiões norte e sul do Estado também alertam que o produto não está chegando como planejado devido aos bloqueios.
Apesar das paralisações de caráter golpista, as unidades dos Ceasas de Minas Gerais e Rio de Janeiro afirmaram que não há desabastecimento.
O IPCA-15, última medição da inflação oficial brasileira, apontou que os alimentos registraram alta de 0,21%. No último mês, as frutas subiram 4,6%, a batata-inglesa, 20,1%, o tomate 6,2%. Os bloqueios podem piorar esse cenário diante de um cenário de escassez.
Desde o início do ano, os preços dos alimentos comprados para consumo em domicílio acumulam alta de 12%. Destaque para o leite (42,5%), a farinha de trigo (33,9%) e a cebola (84,6%).
Redação com Uol