Partirá de Istambul na próxima quarta-feira a Flotilha da Liberdade, coalizão de organizações e ativistas de mais de 30 países que há anos realiza expedições marítimas com ajuda humanitária com o objetivo de desafiar o bloqueio ilegal israelense em curso na Faixa de  Gaza e entregar ajuda humanitária à população palestina.

“A fome está sendo utilizada por Israel como uma arma de guerra. Já 27 crianças morreram de fome em Gaza e os índices de catástrofe estão entre os mais graves existentes no mundo. Na história recente, a situação que o povo de  Gaza enfrenta só é comparável à situação que 2 regiões da Somália passaram em 2011 e em partes do Sudão do Sul em 2017, com a diferença de que em Gaza hoje toda a população está sendo submetida a esse crime contra a humanidade”, afirma Thiago Ávila, representante do Brasil na Flotilha da Liberdade

Israel mantém  Gaza sob ocupação militar desde 1967 e sob cerco total desde 2007. Isso significa que qualquer criança de 0 a 17 anos (a maioria da população de Gaza está entre essa faixa etária) nunca viveu um único dia de sua vida em liberdade. As restrições impostas por Israel mesmo antes de outubro de 2023 impediam a entrada de itens essenciais como equipamentos médicos, alimentos (que ultrapassasse um cruel cálculo de calorias para cada pessoa, mas ainda mantendo a insegurança alimentar), materiais escolares e até coisas supérfluas e chocantes como vestidos de noiva, chocolates e óculos de mergulho.

As restrições, que já faziam organizações denunciarem Israel por transformar  Gaza na “maior prisão sem teto do mundo” pioraram muito após outubro de 2023, quando o ministro da Defesa, Yoav Gallant, declarou que os palestinos em  Gaza ficariam sem água, sem comida, medicamentos ou eletricidade como punição coletiva após os ataques de 7 de outubro. “Nós estamos enfrentando animais humanos e agiremos de acordo”, afirmou o ministro quando fechou totalmente as passagens para ajuda humanitária de Israel, além do cerco marítimo e aéreo e o controle que detém sobre a fronteira de Rafah, que separa o Egito do sul de Gaza.

“Antes da intensificação do cerco, 500 caminhões entravam diariamente em  Gaza com ajuda humanitária e já existia insegurança alimentar. Há quase 200 dias Israel restringiu a entrada para 0 a 200 caminhões diários, sendo a média dos últimos dias de 181 caminhões. O que já era um campo de concentração, se tornou um campo de extermínio, com mais de 34 mil pessoas assassinadas, entre elas mais de 14 mil crianças, e com a fome se tornando um risco de morte ainda maior que as bombas de Israel”, afirma o internacionalista Thiago Ávila.

Diante da intransigência de Israel, alguns países começaram a realizar entregas aéreas, porém com alcance limitado. Esse método é caro, perigoso (pessoas já morreram esmagadas ou afogadas, quando caem no mar) e serve mais para manobras de relações públicas de governos que querem aparecer como solidários à catástrofe humanitária palestina. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, grande aliado estratégico de Israel e maior fornecedor de armas, segue enviando bilhões de dólares em ajuda militar incondicional, mas faz entregas aéreas de comida para diminuir o impacto sobre a opinião pública estadunidense em período eleitoral.

“Quando os governos falham, as pessoas comuns precisam dar um passo à frente. A Flotilha da Liberdade denuncia a inação dos governos e organismos internacionais para deter o genocídio. O que essas mais de mil pessoas estão fazendo colocando suas vidas em risco era papel dos governos e organismos multilaterais internacionais. Mas, se os governos não fazem, as pessoas comuns terão que deter o genocídio contra o povo palestino através de seus próprios meios”, aponta Thiago Ávila.

Levar ajuda humanitária aos palestinos em  Gaza é urgente, porém a Flotilha da Liberdade afirma que apenas isso não é suficiente. O grupo deseja pôr fim ao bloqueio ilegal e mortal de Israel, bem como ao controle geral de  Gaza por parte de Israel. “Permitir que Israel controle o que e quanta ajuda humanitária pode chegar aos palestinianos em Gaza é como deixar a raposa cuidar do galinheiro. E, no entanto, é isso que a comunidade internacional de Estados está a permitir, ao recusar sancionar Israel e desafiar as suas políticas genocidas, a fim de garantir que ajuda suficiente chegue à população civil encurralada, sitiada e bombardeada”, diz o pronunciamento da Flotilha da Liberdade.

Em 26 de janeiro, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu que “o Estado de Israel continua obrigado a cumprir integralmente as suas obrigações ao abrigo da Convenção do Genocídio e da referida Ordem, inclusive garantindo a segurança e a proteção dos palestinos na Faixa de Gaza”. Em 28 de março, o TIJ ordenou medidas preliminares adicionais, que incluíam exigir que as forças israelenses parassem de “impedir, através de qualquer ação, a entrega de assistência humanitária urgentemente necessária” aos palestinos em  Gaza.

Fonte: Brasil 247

Deixe uma resposta