Bolsonaristas promoveram nesta segunda-feira uma noite de terror em Brasília, incendiando veículos e tentando invadir a sede da Polícia Federal
Um grupo de terroristas, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), queimou oito carros e cinco ônibus e aterrorizou Brasília na noite desta segunda-feira (12), segundo balanço feito por agentes do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Desse total, quatro ônibus e sete carros foram totalmente queimados e o restante, parcialmente.
Os atos de vandalismo tiveram início após o ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, mandar prender um dos líderes do grupo terrorista José Acácio Serere Xavante por suposta prática de condutas ilícitas em atos antidemocráticos. A prisão, que tem prazo inicial de dez dias, atende pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e se fundamentou na necessidade de garantia da ordem pública. Segundo nota do STF, há indícios nos autos da prática dos crimes de ameaça, perseguição e abolição violenta do Estado Democrático de Direito – previstos no Código Penal.
No pedido de prisão temporária, a PGR argumenta que a liderança vem se utilizando da sua posição de cacique do Povo Xavante para arregimentar indígenas e não indígenas para cometer crimes, mediante a ameaça de agressão e perseguição do presidente eleito e dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
E foi justamente com ameaças e depredação que os terroristas bolsonaristas reagiram à prisão do cacique. Eles tentaram invadir o prédio da Polícia Federal (PF), onde José Acácio está preso, e quebraram vidros da 5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte. Agentes da PF atiraram balas de borracha para conter os vândalos e pediram reforço para proteger o prédio contra a fúria dos bolsonaristas, que deixou paus e pedras espalhados por todo canto.
Quando chegaram, os policiais militares entraram em confronto com o grupo, que colocou botijões de gás em vias próximas ao local. Segundo o Corpo de Bombeiros, eles afirmaram que estavam vazios. Uma pessoa de 67 anos precisou de atendimento médico após inalar gás lacrimogêneo.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram bolsonaristas de verde e amarelo armados com pedaços de pau, correndo em direção à sede da PF. Um deles diz que um ônibus com mais bolsonaristas chegaria para reforçar a manifestação antidemocrática. Muito exaltado, um deles gritava: “Eu posso morrer aqui hoje, não tem problema, não”.
Quem é o cacique Serere
O Cacique Serere, liderança indígena bolsonarista, é muito conhecido entre os golpistas que estão acampados em frente ao Quartel General do Exército, alguns deles participaram dos atos de vandalismo. Ele faz os discursos mais inflamados, especialmente contra Moraes.
Segundo o STF, Serere Xavante teria realizado manifestações de cunho antidemocrático em diversos locais de Brasília, em frente ao Congresso Nacional, no Aeroporto Internacional de Brasília, quando os terroristas invadiram a área de embarque; no centro de compras Park Shopping, na Esplanada dos Ministérios, por ocasião da cerimônia de troca da bandeira nacional e em outros momentos). E ainda em frente ao hotel onde estão hospedados o presidente e o vice-presidente da República eleitos, Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSD), que foram diplomados nesta segunda-feira (12), na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Até meia noite nenhum terrorista havia sido preso
Apesar de o governador Ibaneis Rocha ter determinado “prisão para os vândalos”, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, delegado Júlio Danilo, não sabia, à meia-noite, três horas depois da noite de violência, se alguém estava preso.
“O caos não venceu nem vencerá”
O secretário acompanhou o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), futuro ministro da Justiça do governo Lula, em entrevista iniciada por volta de 23h40 e encerrada pouco mais de meia-noite. O responsável pela segurança do presidente eleito, delegado da Polícia Federal Andrei Rodrigues – futuro diretor-geral do órgão, também participou.
Os três asseguraram que a segurança de Lula está intacta e que assim permanecerá até sua posse e depois dela.
Dino apontou para uma possível orquestração golpista com objetivo de macular a diplomação de Lula como presidente da República. Desse modo, considerou fracassado o objetivo dos “organizadores do caos” desencadeado justamente nesse dia. Dino assinalou que a diplomação do presidente da República – agora habilitado a tomar posse no dia 1º de janeiro – é uma vitória da democracia.
“Houve a diplomação de Lula, e não podemos achar que houve uma vitória dos que querem o caos. Essas pessoas não venceram hoje e não vencerão amanhã”, disse Dino.
Depois do jantar
A primeira intervenção pública do ministro da Justiça, Anderson Torres, ocorreu às 23h08, por mensagem no Twitter. O ministro, que momentos antes havia sido visto jantando no restaurante Dom Francisco, no Setor de Clubes, disse que “tudo será apurado e esclarecido” e que a situação estaria se “normalizando”.
Manifestação criminosa
“A manifestação, em tese, criminosa e antidemocrática, revestiu-se do claro intuito de instigar a população a tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente da República eleitos”, disse a PGR em nota.
As evidências de há golpistas terroristas entre os acampados do QG e do Alvorada cresceram desde as primeiras horas de ocupação. Ontem, o senador Randolfe Rodrigues afirmou que pediria ao Supremo Tribunal Federal para incluir a primeira-dama Michelle Bolsonaro no inquérito dos atos antidemocráticos. Isso porque, nos últimos dias, Michelle entregou marmitas a golpistas em vigília na residência presidencial.
Além disso, a notícia de que a PF teria outras ordens de prisão a cumprir fez com que potenciais investigados por crimes contra a ordem democrática fossem acobertados pelo Palácio da Alvorada. Entre eles o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. Segundo a CNN, seu próprio advogado revelou que Eustáquio entrou no Palácio da Alvorada para se “abrigar” nesta segunda.
Fonte: CUT