ategoria critica distribuição bilionária de lucros e denuncia repressão policial na Refinaria de Duque de Caxias
A greve nacional dos petroleiros teve início à meia-noite desta segunda-feira (15), com forte adesão nas bases operacionais da Petrobras em diversas regiões do país, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP). Desde as primeiras horas do dia, trabalhadores de plataformas e refinarias suspenderam atividades em protesto contra a proposta de Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2025–2026 apresentada pela empresa, considerada rebaixada pela categoria.
Além da paralisação, o primeiro dia de greve foi marcado por denúncias de repressão policial no Rio de Janeiro. Durante mobilização na porta da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), dois dirigentes do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) de Caxias foram detidos após ação da Polícia Militar. Segundo a FUP, os sindicalistas foram agredidos e algemados enquanto realizavam atividades de convencimento junto aos trabalhadores. Ainda de acordo com a FUP, eles foram liberados por volta das 10h.
O sindicalista Eduardo Henrique Soares da Costa, diretor do Sindipetro RJ, classificou o episódio como um “absurdo” e responsabilizou a Petrobras pela presença da polícia. “Até que se prove o contrário, a PM só age quando é chamada pela empresa. A intervenção foi desproporcional e violenta. Um dos companheiros filmava a abordagem quando foi agredido e algemado. O outro tentou intervir e também foi detido”, relatou. Ambos foram liberados ainda pela manhã, após passarem por exame de corpo de delito.https://www.instagram.com/reel/DSSHJi9jkWb/embed/?cr=1&v=14&wp=540&rd=https%3A%2F%2Fwww.brasildefato.com.br&rp=%2F2025%2F12%2F15%2Fgreve-dos-petroleiros-comeca-com-adesao-em-massa-e-fup-denuncia-prisao-de-dirigentes-no-rj%2F#%7B%22ci%22%3A0%2C%22os%22%3A839.8000000007451%2C%22ls%22%3A236.90000000223517%2C%22le%22%3A724.1000000014901%7D
O Brasil de Fato solicitou posicionamento sobre o episódio à Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Se houver retorno, o texto será atualizado.
Categoria rejeita proposta e denuncia política da atual gestão
A crítica à destinação de lucros bilionários aos acionistas segue no centro da mobilização. Segundo a Petrobras, apenas no terceiro trimestre deste ano foram aprovados R$ 12,16 bilhões em remuneração aos acionistas, valor que será pago em duas parcelas entre fevereiro e março de 2026. A quantia integra os R$ 32,7 bilhões já anunciados pela empresa como lucro distribuído até setembro. Para os petroleiros, trata-se de uma política que privilegia o mercado financeiro enquanto nega avanços à categoria no Acordo Coletivo de Trabalho.
A greve foi aprovada em assembleias por quase unanimidade e, segundo relatos das federações FUP e FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), começou com força superior à paralisação de 2020. No setor das plataformas – tradicionalmente mais mobilizado – a adesão foi total no Espírito Santo, Norte Fluminense e Amazonas. Trabalhadores de seis refinarias também cruzaram os braços sem realizar a troca de turno.
De acordo com Eduardo Henrique, setores que normalmente não aderem às mobilizações desta vez participaram do movimento, reflexo da insatisfação crescente diante da condução da estatal sob a presidência de Magda Chambriard. “É uma política de austeridade a ferro e fogo, que privilegia os acionistas com dividendos extraordinários enquanto impõe arrocho à categoria”, afirmou.
Para o dirigente, a greve não se volta contra o governo federal, mas sim contra o modelo de gestão da Petrobras, que, segundo ele, trata a empresa como exportadora de óleo cru e não como uma empresa integrada, voltada à soberania energética. “Menos acionista, mais ACT. Queremos valorização dos trabalhadores e um acordo digno para ativos, aposentados e terceirizados”, defendeu.
Além da greve, aposentados e pensionistas seguem em vigília em frente ao edifício-sede da Petrobras, o Edisen, no Rio de Janeiro. O ato já dura cinco dias e cobra o fim dos planos de equacionamento da Petros, que têm provocado perdas financeiras graves para esse segmento da categoria.
Reivindicações da categoria
Entre os principais pontos da pauta apresentada pelos trabalhadores estão:
- ACT com validade de um ano (2025–2026) e garantia de ultratividade;
- Solução para a questão do setor offshore e fim dos “desimplantes”;
- Reajuste na tabela da Hora Extra Troca de Turno (HETT);
- Criação de uma tabela salarial unificada para trabalhadores da holding e subsidiárias;
- Valorização dos aposentados, com fim dos Planos de Equacionamento de Déficits (PEDs) da Petros;
- Retorno do Programa Jovem Universitário e ampliação do benefício educacional;
- Implementação do regime 14×21 para trabalhadores embarcados próprios e terceirizados;
- Destravamento das negociações sobre o Plano de Cargos, Carreiras e Salários;
- Revogação da escala 6×1 para médicos e dentistas da área de SMS;
- Combate à terceirização e fim da contratação de empresas caloteiras;
- Cancelamento do processo de privatização da Petrobras Biocombustível (PBIO);
- Concessão de vale alimentação nas unidades com refeição in natura, conforme legislação.
Procurada pelo Brasil de Fato, a Petrobras informou que registrou manifestações em suas unidades e que “não há impacto na produção de petróleo e derivados”. A empresa afirmou ter adotado medidas de contingência para garantir a continuidade das operações e disse que “o abastecimento ao mercado está garantido”.
A estatal também declarou que respeita o direito de manifestação dos empregados e mantém “canal permanente de diálogo com as entidades sindicais, independentemente de agendas externas ou manifestações públicas”. Sobre o Acordo Coletivo de Trabalho, a Petrobras afirmou que a negociação está em curso desde o final de agosto e que a proposta apresentada em 9 de dezembro contempla “avanços aos principais pleitos sindicais”. Segundo a empresa, há empenho em concluir a negociação na mesa com as entidades.
O Ministério de Minas e Energia (MME) também foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
Fonte: Brasil de Fato






