Ex-assessora de Jucá e do ex-ministro Rogério Marinho, Mariângela Fialek, a Tuca, foi levada por Lira para operar esquema na Câmara. Conhecida como “HD do Orçamento Secreto”, ela pode implodir bolsonaristas e Centrão.
Alvo da Operação Transparência, desencadeada nesta sexta-feira (12) pela Polícia Federal (PF), a ex-assessora de Arthur Lira (PP-AL), lotada atualmente na Presidência do PP na Câmara, Mariângela Fialek, a Tuca, ficou conhecida nos bastidores do Congresso como HD do Orçamento Secreto.
O apelido se deu porque Mariângela guarda em planilhas nomes e valores de todos os deputados comprados com emendas parlamentares pelo governo Jair Bolsonaro (PL), dados que são escondidos do público no esquema do Orçamento Secreto.
Contratada por Lira em fevereiro de 2021, um mês depois que ele assumiu a Presidência da Câmara, Mariângela Fialek tem um longo currículo de prestação de serviços ao Centrão e ao bolsonarismo.
Antes de ser transferida para a Presidência da Câmara, para atuar com Lira, Tuca era chefe da Assessoria Especial de Relações Institucionais do Ministério do Desenvolvimento Regional do governo Jair Bolsonaro (PL), comandada pelo ex-tucano Rogério Marinho (PL-RN), atual líder da bancada do ex-presidente no Senado.
Mariângela também atuou como assessora do então senador Romero Jucá, que ficou conhecido pelo áudio vazado em que diz que “a solução mais fácil era botar o Michel”, em um “grande acordo, com o Supremo, com tudo” durante o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.
Assim que Michel Temer (MDB) foi “botado” na Presidência, Tuca assumiu a secretaria de governo. Ela também foi assessora no escritório de representação do governador paulista João Doria, do PSDB, em Brasília.
Orçamento Secreto
Com vasta experiência legislativa e fino trato, como dizem os parlamentares, Mariângela, que é advogada de formação, foi escalada por Lira para organizar as planilhas e coordenar a distribuição das emendas via orçamento secreto, que omitiam os dados dos beneficiários das emendas.
Na sala da Presidência da Câmara, onde ainda atuava e que foi alvo de busca e apreensão pela PF, a assessora guardava as listas dos parlamentares cooptados pelo esquema, usadas para cobrar as faturas em votação importantes para o grupo político.
A chantagem por meio dos documentos, segundo apurou a Fórum, se estende até os dias atuais com os deputados reeleitos, que temem que a bomba do esquema de corrupção seja detonada nas investigações da Polícia Federal.
Em entrevista ao site The Intercept em 2024, o ex-deputado bolsonarista Waldir Soares de Oliveira, o delegado Waldir – atualmente filiado ao União-GO – revelou a participação de Tuca no esquema de Lira que, segundo ele, chegou a negociar votos para a reeleição na Presidência da Câmara, em 2023, por ao menos R$ 10 milhões em emendas.
“Ela só faz a indicação [das emendas pedidas pelos deputados] para os ministérios, ela não faz o acompanhamento [da execução orçamentária]. Quem faz acompanhamento é a minha assessoria. Se eu tenho R$ 5 milhões, por exemplo, meu assessor técnico faz a indicação dos municípios [a que vou encaminhar os recursos] e manda a listagem para Tuca. E ela manda isso para os ministérios”, disse à época, resumindo a investigação da PF.
A linha da investigação da PF teria detectado ainda dois operadores dentro do Palácio do Planalto, no governo Bolsonaro, responsáveis por efetuar os pagamentos e os acordos prometidos pelo Centrão.
Na secretaria de governo, que era coordenada pela ex-ministra Flávia Arruda (PL-DF), o responsável era Carlos Henrique Sobral, que já passou por gabinetes de figuras como Eduardo Cunha (Republicanos), artífice do golpe contra Dilma, e Geddel Vieira Lima (MDB), preso com malas de dinheiro.
Ex-esposa de José Roberto Arruda, ex-governador do DF também preso por corrupção, Flávia retomou o sobrenome Peres ao casar com Augusto Ferreira Lima, sócio de Daniel Vorcaro, que foi preso nas investigações sobre o Banco Master.
Já na Casa Civil, à época comandada pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI) – que era considerado pelos parlamentares como “presidente de fato” no governo Bolsonaro -, a operação ficava à cargo do então secretário-executivo Jônathas Assunção Salvador Nery de Castro.
No fim de novembro, o ex-assessor de Ciro Nogueira – que também atuou como chefe de gabinete de Walter Braga Netto – foi alvo da operação da Receita Federal contra o grupo Refit, onde atua como executivo.
A refinaria Refit, alvo da Operação Poço de Lobato da RF, pertence ao empresário Ricardo Magro, considerado o maior de ICMS do estado de São Paulo. O grupo tem dívidas que superam a marca de R$ 26 bilhões, e a investigação demonstra um modelo estruturado de fraude nacional e internacional.
A ação mobilizou cerca de 600 agentes em cinco estados e no Distrito Federal, cumprindo 126 mandados de busca e apreensão. Além da Receita, atuam no caso o Ministério Público de São Paulo, a PGFN, a Sefaz-SP, a PGE-SP e as forças policiais.
A megaoperação, batizada em referência ao primeiro poço de petróleo perfurado no Brasil, é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que ligou a atuação da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) à Faria Lima.
Fonte: Revista Fórum






