Nos últimos dois anos, Israel realizou mais de 20 mil ataques contra a Faixa de Gaza, número mais de dez vezes superior às ofensivas do Hamas. O dado faz parte de um levantamento do Acled (Banco de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados) e expõe a dimensão do genocídio que devastou o território palestino e deixou mais de 67 mil mortos desde 2023. As informações são da Folha de S.Paulo, em reportagem de Gabriel Barnabé, Gustavo Queirolo e Tiago Cardoso.
O genocídio começou em 7 de outubro de 2023, após uma ofensiva do Hamas em Israel que matou cerca de 1.200 pessoas, em sua maioria civis. Desde então, a população palestina tem sido alvo de bombardeios sistemáticos, com cerca de 90% das ações israelenses realizadas por via aérea. Mais da metade desses ataques atingiu civis.
Na última semana, um possível acordo de paz voltou à pauta com a mediação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do premiê israelense, Binyamin Netanyahu. O Hamas anunciou aceitar pontos do plano, como a libertação de reféns, e chegou a admitir abrir mão do governo em Gaza sob determinadas condições. Mesmo assim, ataques israelenses prosseguiram no território.
Escalada e retração de ataques
Entre 2023 e 2024, Israel conduziu 11.361 ofensivas, enquanto grupos palestinos realizaram 1.287 ataques. No período seguinte, o número caiu para 8.949 do lado israelense e 651 do lado palestino — reduções de 21,2% e 49,4%, respectivamente.
Os confrontos diretos também despencaram: foram 1.264 no primeiro ano contra apenas 246 no segundo, uma queda de 80,5%. Analistas avaliam que essa redução decorre principalmente do enfraquecimento militar do Hamas diante da superioridade bélica israelense.
Adaptação do Hamas e avanço israelense
Mesmo fragilizado, o Hamas buscou alternativas de sobrevivência. De acordo com o Acled, o grupo “se adaptou mudando para táticas de guerrilha no campo de batalha e estabelecendo mecanismos informais de governança e aplicação da lei para manter a influência doméstica”.
Israel, por outro lado, ampliou o cerco sobre Gaza. Desde a ruptura unilateral do cessar-fogo, em março deste ano, o Exército assumiu o controle de mais de 75% do território e intensificou operações de destruição antes da ofensiva terrestre iniciada em setembro.
Netanyahu mantém endurecimento
Mesmo diante de negociações, Netanyahu reforçou que não aceitará qualquer acordo sem o desarmamento do Hamas. “Seja por via diplomática, seja por via militar”, declarou o premiê.
O relatório do Acled alerta que a estratégia israelense não se limita ao combate ao Hamas, mas inclui “bloquear alternativas de governo palestino e empurrar Gaza para condições inabitáveis, a fim de obstruir qualquer caminho para a soberania palestina”.
Fonte: Brasil 247