Investigadores da ONU acusaram Israel, nesta terça-feira (16), de cometer um “genocídio” em Gaza com o objetivo de “destruir os palestinos” que vivem no território e culparam o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e outros funcionários de alto escalão do país por instigar o crime.
A Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU, que não fala em nome das Nações Unidas, afirma que “está acontecendo um genocídio em Gaza”, disse à AFP Navi Pillay, diretora da comissão.
“A responsabilidade recai sobre o Estado de Israel”, destacou Pillay, de 83 anos, ao apresentar o documento.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel reagiu rapidamente, “rejeitando categoricamente este relatório tendencioso e mentiroso”, e pediu a dissolução da comissão de investigação.
O Ministério também afirmou que o relatório “baseia-se inteiramente em falsidades do Hamas, encobertas e repetidas por outros”.
Chris Sidoti, um dos três comissários responsáveis pelo relatório, rejeitou os comentários israelenses em uma coletiva de imprensa, sugerindo que soavam como se tivessem sido retirados do ChatGPT: “Eles sempre dizem a mesma coisa” e “nunca fornecem provas”, afirmou.
Pela primeira vez, uma comissão de investigação acusa Israel de genocídio em Gaza, um termo que as Nações Unidas ainda não usaram. No entanto, para Pillay, este relatório deve “incitar os líderes de alto escalão da ONU” a fazê-lo.
Nesse sentido, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou após a publicação que viu “provas cada vez mais evidentes” de genocídio no enclave, devastado pela ofensiva israelense em retaliação ao ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.
A comissão independente de investigação concluiu que, desde outubro de 2023, as autoridades e forças israelenses cometeram “quatro dos cinco atos genocidas” listados na Convenção sobre Genocídio de 1948.
Estes incluem “matar membros do grupo, causar danos físicos ou mentais graves a membros do grupo, submeter deliberadamente o grupo a condições de vida calculadas para causar sua destruição física, total ou parcial, e impor medidas destinadas a impedir nascimentos dentro do grupo”.
– “Guerra genocida” –
O relatório conclui que o presidente israelense, Isaac Herzog, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant “incitaram a cometer um genocídio e que as autoridades israelenses não tomaram medidas contra eles para punir a incitação”.
“A população israelense foi traída por seu Governo (…) que leva dois anos travando esta guerra genocida”, afirmou Sidoti.
Na sua opinião, “o trauma” do 7 de outubro foi “manipulado por Netanyahu e seus acólitos”.
Quase 65.000 pessoas morreram em Gaza desde o início da guerra, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas e considerados confiáveis pela ONU. O ataque dos islamistas em Israel deixou mais de 1.200 mortos.
A grande maioria dos habitantes de Gaza teve que abandonar suas casas pelo menos uma vez e outros deslocamentos acontecem à medida que Israel intensifica sua ofensiva para tomar o controle da Cidade de Gaza, onde a ONU declarou um cenário de fome.
A comissão de investigação não é uma instância jurídica, mas seus relatórios podem aumentar a pressão diplomática e servem para compilar evidências úteis para os tribunais.
De fato, a comissão concluiu um acordo de cooperação com o TPI, “com o qual compartilhamos milhares de informações”, explicou Pillay, que foi presidente do Tribunal Penal Internacional para Ruanda e juíza no TPI.
“A comunidade internacional não pode ficar em silêncio diante da campanha genocida lançada por Israel contra o povo palestino em Gaza. Quando surgem indícios e provas claras de genocídio, a falta de ação para detê-lo equivale à cumplicidade”, enfatizou.
A ONU, como tal, não classificou a situação em Gaza como genocídio, um termo utilizado por vários governantes mundiais, como o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o colombiano Gustavo Petro, o turco Recep Tayyip Erdogan e o espanhol Pedro Sánchez. Em maio, no entanto, o diretor de operações humanitárias exortou os líderes mundiais a “agir para impedir um genocídio”.
Em Haia, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), a instância judicial máxima das Nações Unidas, pediu a Israel em janeiro de 2024 a adoção de medidas para evitar a execução de qualquer ato de genocídio.
Por sua vez, o TPI emitiu no mesmo ano ordens de prisão contra Netanyahu e Gallant, suspeitos de crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Fonte: Swissinf.ch