O Google assinou um contrato de US$45 milhões com o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para disseminar uma campanha publicitária global em meio genocídio em Gaza, reportou a rede Drop Site News.
O acordo compreende anúncios no YouTube, em outras plataformas e nas ferramentas de pesquisa, explicitamente descrito em documentos do governo israelense como parte de seus esforços de propaganda de guerra.
Assinado em junho de 2025, o contrato autoriza campanha extensiva de “hasbara”, termo em hebraico para publicidade de Israel, comumente sob gestão de inteligência e aplicada para encobrir ou justificar crimes de guerra.
A campanha coincide com uma crise de diplomacia e relações públicas sem precedentes vivenciada por Israel, em meio ao cerco e subsequente fome em Gaza, reconhecida pelas Nações Unidos e órgãos competentes.
Um dos vídeos da campanha, produzido pelo Ministérios de Relações Exteriores de Israel e divulgado no YouTube, com seis milhões de exibições até então, afirma facciosamente: “Há comida em Gaza. Qualquer outra coisa é mentira”.
Segundo registros internos de Israel, a iniciativa é coordenada via Agência de Propaganda do Governo (Lapam), departamento sob jurisdição direta do premiê.
Israel desembolsou ainda US$3 milhões no Twitter (X), de Elon Musk, US$2.1 milhões na plataforma franco-israelense Outbrain/Teads e um valor não-revelado em diversas redes da Meta, como Facebook, Instagram e WhatsApp.
Alguns dos anúncios buscam atacar agências da ONU e ongs, ao difamá-las por “sabotar deliberadamente” a distribuição assistencial em Gaza — sem provas.
A Fundação Hind Rajab — batizada após menina de seis anos morta por Israel em Gaza, que denuncia criminosos de guerra na justiça internacional — é caluniada por “ideologias extremistas”, conforme as diretrizes da campanha.
Agências das Nações Unidas, porém, via consórcio Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC), reconheceu oficialmente a fome na última semana, com 367 mortes, incluindo 131 crianças.
Em março, oficiais foram questionados no parlamento (Knesset), não sobre a fome, mas seu preparo de relações públicas. Avichai Edrei, porta-voz militar, preconizou: “Podemos lançar uma campanha digital, para dizer que não há fome [sic]”.
Grupos de direitos humanos, institutos de checagem de fatos e especialistas da ONU têm alertado ao crescente papel das big techs americanas em promover a desinformação e o negacionismo do genocídio a favor de Israel.
Em junho, Francesca Albanese, relatora especial para os direitos humanos nos territórios ocupados, acusou o Google de lucrar com o genocídio.
Vazamentos internos flagraram Sergey Brin, cofundador da companhia, em resposta a um funcionário, descrevendo as Nações Unidas como “organização claramente antissemita [sic]” — igualmente, sem fundamento.
O Google é condenado ainda por seu papel no Projeto Nimbus, serviço de nuvem a Israel, em parceria com a Amazon, incluindo fins militares.
Críticos apontam que os contratos revelam relações íntimas entre o Vale do Silício e atos de violência de Estado em todo o mundo.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há quase dois anos, com ao menos 63 mil mortos e dois milhões de desabrigados, sob cerco, destruição e fome. Dentre as mortes, ao menos dezoito mil são crianças.
Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, emitiu mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.
O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024. Governos e empresas cúmplices podem ser implicados ao longo do processo.
Fonte: Monitor do Oriente