Com o Processo de Eleição Direta (PED) marcado para o dia 6 de julho deste ano, o Partido dos Trabalhadores em Alagoas (PT-AL) vive hoje um intenso período de campanha e medição de forças entre as tendências internas que historicamente se organizam na legenda. Este ano, as atenções devem ficar voltadas para a disputa da presidência do diretório estadual, que tem candidatos o deputado estadual Ronaldo Medeiros, a presidente do sindicato dos Urbanitários, Dafne Orion e o Professor Luizinho da UNEAL. Todos os nomes têm origem política no movimento sindical.

Em Alagoas, atualmente, a militância do PT está organizada entre sete tendências. São elas: Construindo um Novo Brasil (CNB), Resistência Socialista, Democracia Socialista (DS), Articulação de Esquerda, O Trabalho, Esquerda Popular Socialista (EPS) e Movimento PT. Além de pessoas ou grupos independentes, como os integrantes da Bancada Negra ou militantes do MST que são filiados ao partido e não estão ligados a nenhuma tendência.

Dafne Orion representa a CNB, que hoje comanda o diretório estadual e tem nomes de peso como o deputado federal Paulão. Ela afirma que não pretende se ater às forças caso seja eleita. “Eu estou me apresentando como candidata a presidente do PT Alagoas, então, a partir do momento que isso acontecer, a minha força está me indicando, mas eu vou ser presidente do PT Alagoas. A gente vai trabalhar com todo mundo que tem compromisso com o partido, independente qual força faça parte, o diálogo a gente vai construir, quer construir coletivamente”.

Reconhecendo que há dificuldades, ela se propõe a ajudar o PT a crescer. “O partido é gigante, mas a gente sabe que tem muito trabalho para fazer aqui em Alagoas. O PT tem muito que crescer aqui no estado e a gente quer assumir esse compromisso e seguir levando essa bandeira do partido, defendendo os pilares de partido, que é a democracia, que é a justiça social, o compromisso com os movimentos sociais e populares, os sindicatos, que são as bases do partido, mas para que o partido avance. Que a gente tenha o tamanho que o partido merece ter aqui no estado também. A gente precisa fazer esse trabalho de que eu chamo um trabalho de volta às bases mesmo do partido. O partido precisa ter uma vida orgânica novamente, não aparecer apenas de 4 em 4 anos, 2 e 2 anos de eleição partidária”.

OPOSIÇÃO

O principal opositor é o deputado estadual Ronaldo Medeiros. Confiante na vitória, o parlamentar que apresenta 40 anos de história no partido diz chegar à disputa com o apoio de quatro tendências [Resistência Socialista, Democracia Socialista (DS), Articulação de Esquerda e Movimento PT] e do grupo do MST. “Eu não tenho dúvida, nós estamos muito fortes, muito organizados, muito unidos. Esse grupo está unido em torno de propostas, em torno de realmente mudar”. Segundo ele, “seria até justo que a CNB se ausentasse dessa disputa, porque são 40 anos no comando. Eu creio que quem tem 40 anos não pode estar propondo mudança, nem propondo coisas novas não, porque já teve muito tempo para fazer, não fez”.

Ronaldo direciona as críticas ao grupo, e mais nominalmente ao deputado federal do partido. “São 40 anos que esse grupo está no poder no PT aqui em Alagoas, o mesmo grupo que é liderado pelo companheiro Paulão, deputado federal Paulão. E esse grupo vem trazendo o partido para longe da sociedade, é um partido hoje que não dialoga com a sociedade. É um partido que tem dificuldades aqui em Alagoas devido a esse grupo ter três, quatro pessoas que governam o PT aqui em Alagoas sozinho. Esse grupo é que decide as coisas e isso causa o distanciamento da militância do partido e causa também o distanciamento do da sociedade”.

Comparando com outros estados, Medeiros diz que Alagoas está destoando do partido. “Veja o seguinte: Bahia tem governador do PT, tem senadores, tem tudo. Lula ganha lá. Em Sergipe Lula, ganha. Tem deputados federais, tem senador, teve governador. Alagoas, Lula perde em Maceió. É a única capital do Nordeste que perde, e não adianta dizer que é porque é conservadora. Maceió já elegeu Katia Born [prefeitura] e Ronaldo Lessa [governo estadual]”, lembra o parlamentar.

Terceira via reforça necessidade de o partido voltar a ser dos militantes

A terceira via que se apresenta neste cenário de disputa pela presidência do PT em Alagoas é o Professor Luizinho, pela tendência “O Trabalho”. O docente da UNEAL reclama da centralização do partido em todo dos mandatos que possui atualmente.

“Nossa candidatura surge da necessidade do partido voltar a ser dos militantes. Os militantes estão cansados dessa disputa insana entre dois gabinetes. Entre o gabinete do Paulão, e o gabinete do Ronaldo [Medeiros], porque a gente quer devolver o partido para a base, o partido para a militância. Um partido que possa reatar com os movimentos sociais. Um partido que rompa com a dependência histórica dos Calheiros. Esse é o sentido da candidatura, a candidatura da base, uma candidatura para virar o partido à esquerda, reatar com os movimentos sociais”, argumenta.

A única tendência que ainda não decidiu o posicionamento foi a Esquerda Popular Socialista. As lideranças afirmam que seguem abertos para dialogar com todos os segmentos internos do partido.

“Ainda não há registros de candidaturas, até mesmo outros nomes podem surgir. Uma das possibilidades, inclusive, é a gente lançar uma candidatura própria da EPS para a presidência do PT Maceió. Estamos avaliando o cenário político com cautela e racionalidade “, disse a jornalista Elida Miranda, dirigente da CUT Nacional.

COLETIVO

A Bancada Negra, que se define como coletivo de pessoas negras que surgiu em 2017, não pretende participar muito ativamente do processo.

“O PED [Processo de Eleição Direta] não está na nossa pauta. Sabemos que podemos contribuir com o debate interno no Partido, a partir das discussões raciais e no debate na formação da nossa militância, mas do ponto de vista da organização interna do PT, não estamos inseridos”, disse Alycia, liderança do coletivo.

No entanto, o grupo não minimiza o processo e já escolheu um lado. “Sabemos da importância do PED-PT. E sabemos que a cultura política do PT é construída a partir do debate de ideias divergentes que ocorrem no PED. Mas para a Bancada Negra, o modelo do PED está distante das nossas condições de disputa. Por isso, a Bancada Negra não disputará o PED, no entanto, particularmente a Bancada Negra observa a candidatura da companheira Dafne Orion com bons olhos”.

Presidente terá 4 anos de mandato

O mandato à frente do Partido dos Trabalhadores em Alagoas é de quatro anos, mas a última vez que aconteceu o Processo de Eleição Direta (PED) foi em 2019, quando houve alguns adiamentos nos últimos anos. Sobre o formato das eleições, que deve ser definido na próxima semana, os grupos defendem diferentes propostas.

Desde 2001, as eleições acontecem com participação de todos os filiados, com voto direto na urna. Mas nas últimas eleições houve um formato híbrido, em que a urna só define os diretórios municipais, e no caso das direções estaduais e nacional são eleitos delegados para um congresso e lá são definidos os nomes.

A candidata Dafne Orion defende que o formato seja nominal nas urnas. “A gente sempre defendeu o voto, historicamente a Construindo um Novo Brasil (CNB) defende o voto direto”.

As outras tendências defendem o formato de congresso. O deputado estadual Ronaldo Medeiros, também avalia a situação. “O meu grupo nacional está querendo que para municipal direto, estadual e nacional seja voto direto, mas congressual. Eu, uma opinião minha, acharia melhor que fosse direto para estadual e direto para municipal e só ficasse congressual a federal”.

Fonte: Tribuna Hoje

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