Novas manifestações em massa contra a extrema direita ocorreram na Alemanha neste sábado (08/02), incluindo uma grande mobilização em Munique, no sul, com a presença de 250 mil pessoas, segundo a polícia da capital bávara. Enquanto isso, lideranças ultraconservadoras se reúnem na Espanha e pedem a “refundação da Europa”.
Duas semanas antes das eleições parlamentares alemãs, os manifestantes, reunidos sob o slogan “a democracia precisa de você”, alertaram contra a possibilidade de qualquer colaboração política com o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Os organizadores da manifestação “Munique é multicolorida” queriam enviar “um forte sinal de diversidade, dignidade humana, coesão e democracia” antes das eleições, afirmaram.
Para este sábado, o “Avós contra a Extrema Direita”, um movimento criado em 2018 e inspirado em uma iniciativa semelhante na Áustria, convocou manifestações em várias cidades alemãs, incluindo Hannover, no norte, onde 24 mil pessoas protestaram, conforme a polícia.
No último domingo, 160 mil pessoas, ainda segundo a polícia, se manifestaram na capital alemã, Berlim, pelos mesmos motivos.
As manifestações foram desencadeadas depois que o candidato conservador à chancelaria, do partido CDU e favorito nas pesquisas de intenções de voto, Friedrich Merz, se aproximou da AfD. Graças ao apoio da sigla, ele conseguiu passar no Bundestag (Parlamento alemão) uma moção não vinculante que busca bloquear todos os estrangeiros ilegais nas fronteiras do país, inclusive os solicitantes de asilo.
Até agora, os partidos tradicionais têm rejeitado qualquer cooperação em nível nacional com a extrema direita, em nome do chamado “cordão sanitário”, ou “firewall”, erguido contra a formação nacionalista e hostil aos migrantes. Reunidos na segunda-feira em um congresso, os conservadores declararam que excluíam formar governo com a AfD, que está em segundo lugar nas pesquisas, depois dos conservadores.
Líderes dizem que extrema direita “é o futuro” na Europa
Em Madri, o tom era outro na tarde deste sábado (08/02). Aos gritos de “nós somos o futuro!”, vários líderes da extrema direita europeia, liderados por Viktor Orban e Marine Le Pen, pediram uma “virada de 180 graus” na política europeia, na esteira trumpista que influencia os discursos na Europa.
Sob o slogan “Make Europe Great Again” (Torne a Europa Grande Novamente), inspirado em “Make America Great Again” (Torne os Estados Unidos Grandes Novamente) do presidente dos EUA, Donald Trump, os líderes do grupo parlamentar Patriots for Europe se reuniram em um hotel próximo ao aeroporto de Madri.
Desde a eleição de Trump, “o mundo e a Europa estão experimentando uma aceleração da história”, disse a francesa Marine Le Pen, líder do partido francês Reunião Nacional (RN). “Estamos enfrentando uma mudança real”, acrescentou.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, ressaltou que “o tornado de Trump mudou o mundo”. “Uma era acabou. Ontem, nós éramos os hereges. Hoje, somos a corrente principal”, disse ele.
Também estiveram na tribuna o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini (A Liga), o ex-primeiro-ministro tcheco Andrej Babis (ANO) e Geert Wilders, apelidado de “Trump holandês”, cujo Partido da Liberdade venceu as eleições de novembro passado.
O AfD alemão, que recebe regularmente apoio do bilionário Elon Musk, e a primeira-ministra Giorgia Meloni, a única líder europeia presente na posse do presidente dos Estados Unidos, não estavam em Madri. Os seus partidos pertencem a outros grupos parlamentares europeus.
Aproveitando a reunião na capital espanhola, a líder da oposição venezuelana María Corina Machado enviou uma mensagem na qual agradeceu aos líderes pelo apoio e pela firme rejeição ao presidente Nicolás Maduro, cuja reeleição em julho passado é questionada pela oposição.
“Vamos tirar esse regime do poder”, mas “precisamos de vocês (…) É imperativo que as nações democráticas do mundo nos acompanhem com todos os seus esforços, com todas as suas ideias, com todas as suas ações para conseguir uma transição ordenada na Venezuela”, disse Machado.
Discursos contrário à União Europeia
De acordo com o partido espanhol de direita radical Vox, que organiza o evento, cerca de 2 mil pessoas participaram da reunião, que ocorre no dia seguinte a um jantar entre os líderes do Patriots for Europe e Kevin Roberts, presidente do think tank ultraconservador norte-americano The Heritage Foundation.
O objetivo, de acordo com os organizadores, é “definir a estratégia a ser seguida” e afirmar as ambições do Patriots for Europe contra a Comissão Europeia, acusada por eles de promover a “imigração ilegal” e o “fanatismo climático”. “É hora de dizer basta”, enfatizou Salvini.
Para Steven Forti, especialista em extrema direita da Universidade Autônoma de Barcelona, o Patriots for Europe quer “aproveitar a longa onda da vitória de Trump” para redesenhar “os equilíbrios” dentro da UE.
O Patriots for Europe “tem um ponto em comum com Trump, que é querer enfraquecer a União Europeia”, mas as posições do presidente norte-americano também podem gerar ‘tensões’ entre os diferentes componentes da extrema direita europeia, explicou o pesquisador à AFP.
“A França não pode estar submetida aos Estados Unidos”, advertiu Le Pen aos jornalistas antes da reunião. “Trump, para nós, é um irmão de armas”, avaliou o holandês Wilders, que pediu uma ‘reconquista’ da Europa pela extrema direita, uma referência às guerras travadas pelos reis católicos espanhóis contra os muçulmanos entre os séculos VIII e XV.
Junto com Trump, “nós somos o futuro!”, exclamou Orban, visto como um dos aliados mais próximos do presidente dos EUA na Europa.
Com 86 dos 720 membros do Parlamento Europeu, o Patriots for Europe é a terceira maior força no Parlamento Europeu desde as eleições europeias de junho de 2024, mas está competindo em Bruxelas com dois outros grupos de extrema direita, os Conservadores e Reformistas Europeus (80 europarlamentares), liderados pelo partido de Giorgia Meloni, e a Europa das Nações e Liberdades (26 deputados), que tem a AfD entre seus membros.
Fonte: Ópera Mundi