Declaração cautelosa do bloco contrasta com críticas de seus membros; é atribuída ao temor de melindrar o aliado com quem quer evitar guerra comercial
A União Europeia deu na quarta-feira (05/02) a resposta mais branda de todas às declarações do presidente norte-americano Donald Trump de que pretendia “tomar o controle” de Gaza e desalojar toda a sua população para transformá-la numa “Riviera”. E levou horas para se manifestar.
Pendentes de conseguir uma boa negociação para evitar uma guerra comercial com os Estados Unidos, o bloco evitou criticar Trump, adjetivar suas declarações ou estender-se nos direitos dos palestinos. Limitou-se a dizer: “Tomamos nota dos comentários do presidente Trump”. Felizmente, o porta-voz do bloco acrescentou:
“A União Europeia continua comprometida firmemente com a solução dos dois Estados. Acreditamos ue essa é a única via para uma paz a longo prazo para ambos, israelenses e palestinos. Gaza é parte integral para o futuro Estado palestino.”
O jornal El Pais revela que a ideia de retirar os palestinos de Gaza vem sendo planejada há algum tempo. Segundo o jornal, desde o final de 2023, o governo israelense de Benjamin Netanyahu está arquitetando transferir dezenas de milhares de palestinos de lá para a península do Sinai, no Egito.
Plano de realocar palestinos é antigo
Mencionando fontes da UE, o jornal diz que Netanyahu chegou a sondar altas instâncias do bloco a respeito, com a ideia de que a UE, responsável pelas maiores doações a Gaza, contribuísse ajudando os refugiados e pressionando o Egito a aceitar o plano. Tanto UE como Egito rejeitaram a ideia, agora retomada por Trump.
De qualquer forma, a declaração morna do bloco europeu às declarações de Trump, contrasta com as duras críticas que as declarações de Trump receberam em todo o mundo, das Nações Unidas, e mesmo de vários integrantes da UE, incluindo França, Alemanha, Espanha e Finlândia.
A França destacou que o deslocamento forçado dos palestinos “constituiria uma grave violação do direito internacional, um ataque às aspirações legítimas dos palestinos e também um obstáculo importante para a solução de dois Estados”. E acrescentou: “O futuro de Gaza não deve residir na perspectiva de ser controlada por um terceiro Estado, mas sim no marco de um futuro Estado palestino, sob a égide da Autoridade Palestina”.
O chanceler alemão Olaf Scholz também foi categórico. “Qualquer plano de realocação, de que os cidadãos de Gaza sejam expulsos para o Egito ou Jordânia é inaceitável”, disse, reafirmando a necessidade da criação de um Estado palestino. A ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock advertiu que o plano de Trump viola o direito internacional. “Gaza, assim com a Cisjordânia e Jerusalém Leste pertencem aos palestinos”, lembrou.
‘Gaza é dos palestinos e eles devem permanecer lá’
Na mesma linha foram as declarações do Ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares: “Gaza é a terra dos palestinos e eles devem permanecer em Gaza”. Ele frisou ainda que a franja “é parte do futuro Estado palestino que a Espanha apoia e que deve coexistir garantindo a prosperidade e segurança do Estado de Israel”
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores reforçou a posição dizendo que “a população palestina não deve ser expulsa de Gaza e Gaza não deve ser permanentemente ocupada ou recolonizada por Israel”.
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda foi mais contundente, dizendo que “esta é uma guerra contra os palestinos e não apenas contra o Hamas”. Ele lembrou que o nível de baixas na população civil é extraordinariamente alto em comparação com outros conflitos. “É uma guerra contra a população.
O conflito entre Israel e Gaza depois dos atentados de outubro de 2023 foi um dos temas que mais dividiram a União Europeia. Enquanto alguns de seus membros como os mencionados -sobretudo Espanha e Irlanda – foram duros com Israel e seu desrespeito aos direitos humanos da população civil, países como Áustria, Hungria ou República Checa se opuseram a que se criticasse os ataques israelenses. O bloco levou meses defendendo “pausas humanitárias” na guerra antes de se pronunciar a favor de um cessar-fogo duradouro.
Fonte: Ópera Mundi