A Polícia Federal (PF) prendeu nesta terça-feira (26) um policial militar e um policial civil de São Paulo, suspeitos de integrar um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao crime organizado por meio de fintechs. Um dos detidos, o capitão da PM Diogo Costa Cangerana, atuava na Casa Militar do Palácio dos Bandeirantes e era responsável pela segurança do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele acompanhou o governador em viagens e recebeu prêmios em reconhecimento pelos serviços prestados.
O outro agente preso foi o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, que atuava no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) até dezembro de 2022, quando pediu afastamento não remunerado por dois anos. Ambos foram presos no câmbio da Operação Dólar Tai-Pei, deflagrada para investigar as empresas que oferecem serviços financeiros digitais.
Os suspeitos movimentaram perto de 6 bilhões de reais em transações ao longo dos últimos cinco anos – R$ 800 milhões apenas em 2024. A operação contou com cerca de 200 agentes, que executaram 16 mandados de prisão preventiva e 41 ordens de busca e apreensão, conforme determinação da Justiça Federal.
Cyllas foi citado na delação de Antonio Vinicius Gritzbach, morto no Aeroporto de Guarulhos no dia 8 de novembro. Gritzbach havia denunciado o agente à Corregedoria da Polícia Civil cerca de uma semana antes de ser executado. Cyllas é dono do 2 GO Bank, e suspeito de ter relação com integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de acordo com a polícia.
A PF investiga se a instituição faria parte de um sofisticado sistema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. As fintechs, aponta a corporação, atuariam na venda de moeda estrangeira em espécie, sem autorização do Banco Central, inclusive usando empresas “laranjas” para abrir contas bancárias para movimentar os recursos.
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (27), Tarcísio minimizou a prisão do capitão Diogo Costa Cangerana. Para ele, ter na sua na equipe de segurança um suspeito de ligação com uma facção criminosa é um fato isolado. “O que você tem são atos isolados de pessoas que desviam conduta, como tem em qualquer outra organização”, justificou. Apesar de prometer punição rigorosa contra o acusado, o governador justificou que “toda instituição tem suas maçãs podres”.
As declarações foram feitas após a participação do chefe do Palácio dos Bandeirantes na inauguração do novo prédio de uma escola estadual em Mogi Guaçu (SP).
Embora Cangerana ocupasse, segundo o próprio governo, o cargo de “Chefe de Equipe da Divisão de Segurança de Dignitários do Departamento de Segurança Institucional”, Tarcísio negou que o policial exercesse a função de chefe de sua segurança e acrescentou que ele foi desligado da Casa Militar em setembro. Na ocasião, Cangerana foi transferido para o 13.º Batalhão da PM, responsável pelo patrulhamento da Cracolândia.
“Ele prestava serviço na Casa Militar, estava lá há 14 anos e foi mandado embora”, afirmou o governador. “Trabalhou durante 14 anos (na Casa Militar), com vários governadores. Quando eu cheguei, ele foi embora. Nós tiramos ele em setembro deste ano. Se a gente soubesse de alguma coisa, obviamente ele teria saído há muito mais tempo”, alegou Tarcísio.
Por ter cargo considerado de confiança pelo governador enquanto atuava na Casa Militar, o capitão Diogo recebia gratificações. As investigações apontam sua participação na abertura de contas nessas instituições financeiras.
Apesar de Tarcísio tratar o caso de forma irrelevante e se esforçar para se distanciar da figura do homem apontado como um dos articuladores do esquema financeiro criminoso, Cangerana foi visto ao lado do governador em diversas agendas públicas.
Em publicações no perfil oficial do governo no Instagram, ele aparece acompanhando Tarcísio em um ato de campanha com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) no Mercado Municipal de São Paulo, em agosto. Em uma viagem a Balneário Camboriú (SC) para a Conferência Política de Ação Conservadora (CPAC) Brasil, organizada pela extrema direita brasileira, o acusado também estava presente.
Fonte: Hora do Povo