Com a aquisição, o governo brasileiro indiretamente apoia o regime de Benjamin Netanyahu, que está à frente do genocídio na Palestina
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, apresentou ao presidente Lula (PT) uma proposta para destravar a aquisição de obuseiros 155 mm da Elbit Systems, uma empresa israelense. A ideia de Múcio envolve a compra inicial de apenas dois equipamentos como teste, com uma cláusula que permitiria, em caso de aprovação, a compra dos 34 restantes. No entanto, todo o processo de produção dos obuseiros ocorreria em território brasileiro, gerando até 400 empregos diretos e beneficiando empresas locais.
De acordo com o ministro, o veto à compra por parte de membros do governo, como o assessor especial Celso Amorim, está mais relacionado a questões políticas e ideológicas do que a critérios técnicos. “Com todo respeito, as pessoas que estão contra são por motivos políticos, ideológicos. Eu estou defendendo o Exército e que a gente tenha oportunidade de dotar o Exército Brasileiro de equipamentos mais modernos”, afirmou Múcio em entrevista à Folha de S. Paulo.
A compra, orçada em quase R$ 1 bilhão, enfrenta oposição de setores que consideram inadequado adquirir armamento de um país envolvido no genocídio na Faixa de Gaza. Os opositores alegam que a transação poderia, de certa forma, financiar os ataques israelenses contra os palestinos.
Múcio, no entanto, minimizou essa preocupação. “A gente está brigando com uma coisa simples, coisa boba. Não estamos fazendo uma compra gigantesca de Israel […]. Precisava provar que foi o dinheiro dos obuseiros que financiou aquela guerra. Dois obuseiros não movimentam absolutamente nada”, destacou. Apesar disso, a assinatura do contrato foi adiada em maio deste ano por decisão de Lula, sem previsão de conclusão, em meio ao agravamento das operações militares israelenses na região.
A proposta de Múcio, que contava com o apoio do Exército para modernizar seu parque de obuseiros — grande parte deles remanescentes da Segunda Guerra Mundial —, ainda aguarda uma solução política. O Exército, desde 2017, busca substituir 36 dessas peças antigas, sendo que a Elbit Systems venceu a concorrência por oferecer o melhor preço e soluções técnicas superiores, além de já possuir subsidiárias no Brasil.
O impasse entre a Defesa e a ala diplomática do governo reflete um dilema interno na administração de Lula, que equilibra a necessidade de modernizar as Forças Armadas com as complexidades das relações internacionais. Para Múcio, a relação diplomática com Israel não deveria ser vista como um obstáculo intransponível. “Eu não acho que isso seja um problema diplomático —a diplomacia está lá, nós ainda temos relações diplomáticas com Israel. Se o presidente [primeiro-ministro Netanyahu] foi desatencioso [ao declarar Lula como persona non grata], o presidente não representa todo mundo de lá. Eu estou admitindo que eu estou com a banda boa [de Israel]”, argumentou o ministro.
Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União (TCU) deve analisar nos próximos dias se a legislação brasileira impede que empresas de países em conflito participem de licitações. A decisão pode ser crucial para destravar o processo e reduzir as resistências internas no governo.
Fonte: Brasil 247