Depois de denúncias publicadas no jornal Tribuna Independente, o Ministério Público Federal decidiu abrir procedimento para investigar a Mineradora Vale Verde, em Craíbas.

Veja a matéria publicada no portal Tribuna Hoje:

Segundo relatos de moradores onde estão localizadas as barragens da Mineradora Vale Verde , as explosões no subsolo provocam barulho ensurdecedor, estremecem o chão e deixam as paredes das casas rachadas.

O Ministério Público Federal (MPF/AL) vai investigar as atividades predatórias da Mineradora Vale Verde (MVV), no município de Craíbas, no Agreste alagoano. A decisão foi tomada na quinta-feira (29/07), com base em reportagem publicada pela Tribuna Independente, nesta mesma data. Em nota à imprensa, o órgão ministerial diz que vai abrir procedimento investigatório para apurar denúncia de crime ambiental contra mineradora.

De acordo com relatos de moradores dos povoados as onde estão localizadas as barragens da MVV, as explosões no subsolo do município, para a prospecção de minério do cobre usado pela mineradora, provocam barulho ensurdecedor, estremecem o chão e deixam as paredes das casas rachadas. A perfuração do solo é tão profunda, para a colocação de explosivos, que atinge o lençol freático, com possibilidade de poluição dos mananciais da região.

“Moço, quando eles furam a terra, a água jorra tão forte que o jato d’água atinge a altura superior à de um poste de iluminação”, relatou um trabalhador rural que estava trabalhando num roçado de macaxeira, no povoado de Folha Miúda. Nas proximidades da sede da mineradora, que fica no sítio Lagoa do Mel, na zona rural de Craíbas, os relatos são semelhantes. Os moradores reclamam do barulho das explosões e das rachaduras nas paredes das casas.

“O barulho é grande e estremece tudo”, garantiu o agricultor Antônio Amaro das Silva, de 53 anos.

Segundo a assessoria do MPF/AL, ainda é cedo para dimensionar a gravidade da denúncia, mas o caso será investigado pelo órgão ministerial. “Até o momento o MPF/AL não recebeu nenhuma denúncia sobre as explosões decorrentes das atividades da Mineradora Vale Verde. No entanto, a partir de notícia veiculada na data de hoje, 29 de julho, o órgão ministerial abrirá procedimento investigatório para apurar os fatos relatados pela imprensa” diz o MPFAL, em nota à imprensa.

A notícia sobre a possibilidade de um desastre ambiental em Craíbas, parecido com aquele que ocorreu em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, provocando destruições e centenas de mortes, também chegou ao conhecimento do Ministério Público Estadual de Alagoas (MPE/AL), mas até agora o promotor de Justiça Lucas Mascarenhas ainda não se manifestou.

A reportagem da Tribuna Independente procurou ouvi-lo, por meio da assessoria de comunicação do MPE/AL, mas não foi possível. Fizemos árias ligações, mas o número do celular dele da sempre ocupado e até o fechamento desta edição não tivemos retorno.

Cidade vive dilema entre progresso e a destruição da natureza

Craíbas, no Agreste alagoano, é conhecida como “Terra dos Minérios”, por conta da riqueza do seu subsolo, onde se encontra a maior concentração de minerais da região Nordeste. Não por acaso, a Mineradora Vale Verde (MVV) se instalou no município, há 13 anos, com o objetivo de construir ali uma planta de exploração de minério de cobre, para a produção de matéria-prima vendida às indústrias de base, no Brasil e no exterior.

No começo de tudo, foram flores.

A mineradora chegou à Alagoas como a redenção do Agreste, mas o tempo passou e as promessas de empregos e renda não saíram do papel. Hoje, Craíbas vive um dilema entre o progresso e a destruição da natureza, já que a mineração é, por si só, uma atividade predatória, perigosa e extremamente nociva à natureza.

A exploração do subsolo do município foi autorizada pelo governo do Estado, pela Prefeitura do município e por órgãos ambientais, mas a população, até agora, não houve melhoria nenhuma no município que justificasse o risco que os moradores da região estão expostos.

Na cidade, o desemprego e fome campeiam, revoltam e constrangem os visitantes: é grande a mendicância.

OUTRO LADO

A Mineração Vale Verde disse que tem como objetivo desenvolver o Projeto Serrote, localizado no Agreste Alagoano, no município de Craíbas, junto à divisa do município de Arapiraca, mas sem colocar em risco a natureza e a vida dos moradores da região. Em mensagem à redação da Tribuna Independente, a empresa não respondeu à nossas indagações, mas disse o seguinte, por meio de nota oficial:

Em respostas às reportagens publicadas pelo Jornal de Arapiraca e Tribuna Independente, a Mineradora Vale Verde entrou em contato para divulgar a nota que fala sobre as atividades da Vale Verde no município de Craíbas.

MVV emite nota oficial

A Mineração Vale Verde (MVV) vem a público esclarecer algumas informações que estão circulando em alguns jornais locais.

Em periódicos impressos deste mês de julho, houve a veiculação de fotos da pilha de estéril da MVV — localizada no Sítio Lagoa do Mel, às margens da rodovia AL-486, em Craíbas-AL —, como sendo a imagem da barragem do Projeto Serrote, sugerindo que  ela estaria “a menos de 300 metros de povoado”.

A pilha de estéril é um processo a seco com materiais rochosos vindos diretamente da mina. Isto é, a MVV não possui duas, mas uma estrutura de barragem.

Ela fica a oeste da mina do nosso empreendimento (tendo como ponto de referência a planta e os prédios administrativos), estando a mais de 2 km de distância da primeira comunidade vizinha, sendo esta barragem monitorada 24h/dia, durante os 7 dias da semana, incluindo finais de semana e feriados.

Há insinuações, associando a estrutura do Serrote com tragédias ambientais ocorridas em Minas Gerais, e é preciso esclarecer um ponto importante: a barragem da MVV difere-se tecnicamente das barragens que romperam, que tinham método construtivo de alteamento a  montante (não mais permitido no Brasil).

Antes mesmo da nova lei de barragens, o nosso projeto de engenharia já detalhava uma barragem mais robusta, sem a necessidade de se utilizar a própria estrutura de rejeito como sustentação da mesma — o que ocorre com as barragens com alteamento a montante.

Portanto, a MVV não utiliza esse método construtivo, mas, sim, o alteamento a jusante, sendo alteada com material rochoso em sua estrutura e não o próprio rejeito.

Essa diligência prioriza, assim, a vida e a Segurança dos nossos empregados, terceirizados e das comunidades vizinhas ao nosso empreendimento, seguindo as melhores práticas construtivas de engenharia do Brasil (ABNT) e do mundo (CDA – Associação Canadense de Barragens), esta última que é referência mundial em adoção de rígidas medidas de controle e fiscalização para a segurança de barragens.

Desta feita, a MVV reforça seu compromisso com o diálogo aberto junto às cidades de Craíbas, Arapiraca e toda Alagoas, estando sempre à disposição de todos.

Fonte: Tribuna Hoje

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