PAULO MEMÓRIA – jornalista e cineasta

No tabuleiro geopolítico que se prenuncia para este século XXI, temos três vertentes que pretendem estabelecer sua influência, se não hegemônica, ao menos predominante no jogo de poder no cenário internacional, que será fundamental para os destinos da humanidade em um futuro próximo. As três tendências que disputam este cetro da política internacional são: os Estados Unidos, com um capitalismo decadente, a União Europeia e sua social-democracia em crise e a China, que emerge com o seu moderno projeto do Socialismo de mercado. Durante o período da chamada “Guerra Fria”, predominou a geoestratégia da polarização ideológica entre os EUA e a União Soviética, de meados do século XX até o seu final. Estamos assistindo, atualmente, ao esgotamento dos modelos imperialistas de dominação que dividia o planeta entre os países do bloco capitalista do primeiro mundo, comunistas do segundo mundo e as nações subdesenvolvidas, enquadradas no superado conceito de Terceiro Mundo.

O cenário que está se constituindo mundialmente, é o da desconstrução de forças imperialistas, que impunham seu poderio militar para dominar a ordem política internacional e que ainda se fazem presentes no contexto internacional, e sua substituição pela ascensão do países emergentes e pela expansão da milenar China, que está se impondo naturalmente como a próxima superpotência mundial, não pelo seu potencial bélico-armamentista, mas pela consolidação de uma bem sucedida estratégia política econômica interna e pela expansão mundial do seu comércio. No século passado, a revolução chinesa, que teve na Grande Marcha, liderada por Mao Tsé-Tung, o início de uma nova era, consolidou o fim das velhas dinastias que dominaram o país por milhares de anos. O Último Imperador, obra cinematográfica de 1987, de Bernardo Bertolucci, um dos mais brilhantes cineastas da história, que ganhou nada menos do que nove estatuetas do Oscar de 1988, inclusive o de melhor filme e melhor diretor, reproduziu com magistral precisão, este período de transição histórica que iniciava um novo período para o conhecido “Império do meio”. A china caminha a passos largos para ultrapassar os Estados Unidos e a Europa como a grande liderança global, com uma economia sólida e um grande desenvolvimento, que começou a ser construído pelas reformas delineadas a partir da política de “um país, dois sistemas”, proposto pelo grande líder da China nos anos 80, Deng Xiauping, fundamental para unificação chinesa, promovendo a abertura da economia, com a criação das ZEEs – Zonas Econômicas Especiais de exportação, aproveitando-se do seu extraordinário mercado interno de 1.398 bilhão de pessoas (2019). A china anunciou, em 2013, seu grande projeto geopolítico para ampliar seus domínios, sem ter a conotação imperialista que outras superpotências tiveram em tempos outrora. O atual presidente Chinês Xi Jipjng está implantando o que denomina de “Nova Rota da Seda”, um investimento de US$ 5 trilhões em infraestrutura na Ásia, Europa, Oriente Médio e África, em países situados nestes continentes, que estabelecerem parcerias para abertura de mercado, no comércio internacional, via a OMC – Organização Mundial do Comércio, bem como para empresas chinesas que atuam nos mais diversos segmentos econômicos. A Rota da Seda original, só passou a assim ser denominada no século XIX, nome dado pelo arqueólogo alemão Ferdinand Von Richthofen, pois era por ela que a China escoava sua produção de seda em uma série de itinerários interconectados, tanto pelas caravanas terrestres, como pelas vias oceânicas, mas que na verdade, eram caminhos já conhecidos há mais de 10 mil anos. É a China antiga e moderna se encontrando rumo à novos tempos.

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